quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Perdemos o Brasileiro - José Roberto Torero

Perdemos o Brasileiro - José Roberto Torero

Não vejo muita graça nesses necrológios poéticos que se espalham pela internet. Em vez disso, farei algo mais útil e interessante: vou transcrever algumas das últimas palavras de Sócrates ditas na última quarta-feira, quando o vi falar no projeto Memória do Esporte, que tenta resgatar a história de nossos atletas olímpicos.


O Corinthians ganhou o Brasileiro e perdeu o Brasileiro.

O clube conquistou um disputadíssimo campeonato. Mesmo sem ter um time brilhante, entregou-se em cada jogo, suou mais que qualquer outra equipe e tornou-se o legítimo campeão brasileiro de 2011.

Mas perdeu Sócrates.

Na verdade, todos nós, corintianos ou não, perdemos Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.

Ele foi o mais politizado e atuante jogador do país. E foi um craque. O capitão da nossa seleção de sonho de 1982.

Mas paro aqui de falar sobre ele. Não vejo muita graça nesses necrológios poéticos que se espalham pela internet. Em vez disso, farei algo mais útil e interessante: vou transcrever algumas de suas palavras ditas na última quarta-feira, quando o vi falar no projeto Memória do Esporte, que tenta resgatar a história de nossos atletas olímpicos.

Sua conversa, como sempre, foi política. E, de certa forma, foi na contramão do projeto. Mesmo falando para diretores e produtores que preparam documentários sobre heróis olímpicos, ele disse que a vitória não era o mais importante.

“Muito mais importante que a vitória, trata-se de você atingir seu limite. Eu nunca me esqueço da maior vitória que eu vi na vida, quando uma corredora de maratona chegou absolutamente exausta, com câimbras, sem disputar nada, mas fez questão de terminar a prova. Ela estava disputando o direito de chegar ao final da prova que ela se propôs a fazer. Isso é muito mais importante que qualquer vitória. Até porque a vitória não é importante, ela não nos ensina, nos emburrece. Já a derrota nos faz reavaliar quem somos, o que somos, quem pretendemos ser, como crescer enquanto seres humanos”.

Mais do que competição, esporte para Sócrates era educação e saúde.
Educação porque ensina o convívio social. “Em nosso país existem alguns esportes bastante elitizados, mas o futebol não. Sua prática é estimulada independentemente das origens. Eu tive o privilégio de, ainda criança, conviver com a realidade brasileira. Com a fome, o desemprego, raças diferentes, níveis educacionais distintos. E isso me inspirou muito, eu pude viver isso. Muitas vezes fui em casa de amigos e tive o privilégio de dividir com eles um prato de comida – bem diferente do que me foi oferecido a vida toda. E isso te dá uma bagagem, uma responsabilidade muito importante.”

Sócrates também disse que o Ministério dos Esportes é que deveria ser o verdadeiro Ministério da Saúde, já que o Ministério da Saúde é, na verdade, o da Doença. Depois de afirmar que nunca foi um atleta, ele falou que a prática esportiva trazia óbvios ganhos para o bem-estar físico desde que não se buscasse um altíssimo rendimento. Aí já não seria saudável. E até brincou dizendo nunca ter conhecido um atleta de ponta que não sentisse dores todas as manhãs.

Por fim, falou ainda da relação entre o esporte e a política, mostrando que o esporte, ao invés de alienar, pode informar. Ele contou que viu o pai se desfazer de livros que poderiam ser interpretados como agressivos à ditadura, que lembra de ter ouvido a notícia da morte de Martin Luther King aos 14 anos e, que, nesse mesmo ano, acompanhou a movimentação das ruas em Paris. Mas só entendeu mesmo que o mundo estava em ebulição quando viu os Panteras Negras na Olimpíada do México.

Aliás, o gesto que ele fazia depois de um gol lembra muito o dos Panteras Negras. E ontem foi uma bela homenagem quando todos os torcedores e os jogadores corintianos imitaram o punho erguido de Sócrates.

Tomara que torcedores e jogadores imitem Sócrates em outros gestos.
Precisamos de mais Brasileiros como ele.

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Os emergentes: quatro caminhos e um atalho - José Roberto Torero

Os emergentes: quatro caminhos e um atalho - José Roberto Torero

No futebol também temos emergentes. E eles formam o TOSC. No caso, os clubes são Tupi, Oeste, Santa Cruz e Cuiabá. Os quatro conseguiram o acesso para a Série C do Brasileiro. Eles são muito diferentes em algumas coisas e parecidos em uma.


Você certamente já ouviu falar no BRICS, um acrônimo que identifica o grupo formado por cinco países emergentes: Brasil, Rússia Índia, China e África do Sul.

Pois no futebol também temos emergentes. E eles formam o TOSC. No caso, os clubes são Tupi, Oeste, Santa Cruz e Cuiabá.

Os quatro conseguiram o acesso para a Série C do Brasileiro. Eles são muito diferentes em algumas coisas e parecidos em uma.

O Cuiabá é um jovem clube empresa, criado em 2001 pelo ex-jogador Gaúcho. Deu uma parada em 2006 e voltou às atividades em 2009 sob nova direção. Naquele ano ganhou a segunda divisão do campeonato mato-grossense e em 2011 foi campeão da primeira.

O Oeste é de Itápolis e já tem vetustos 91 anos. Em 1997 estava na quinta divisão do futebol paulista. Mas veio subindo e teve em 2011 o melhor momento de sua biografia, com a conquista do Campeonato Paulista do Interior e o acesso à Série C.

O Santa Cruz sofreu a mais rápida queda da história do futebol brasileiro. Foram três rebaixamentos seguidos. Em 2006 jogou a Série A, disputou a B em 2007, já estava na C em 2008 e foi parar na D em 2009. Mas este ano, dirigido pelo competente técnico Zé Teodoro e empurrado por sua torcida (por sua vez estimulada com o programa “todos com a nota”, que troca notas fiscais por ingressos), ganhou o Pernambucano e foi vice-campeão da Série D.

Mas é o Tupi é quem puxa a fila do TOSC. Neste domingo, o clube mineiro conquistou o Campeonato Brasileiro da Série D ao vencer o Santa Cruz em pleno Arruda, fazendo lágrimas rolarem dos 120 mil olhos presentes.

O time é uma mescla de jovens promissores e atletas experientes que ainda têm o que mostrar. E três destes veteranos são os ídolos do time:

- Luciano Ratinho, 32 anos, surgiu no Botafogo de Ribeirão Preto e depois virou um cigano, passando por Corinthians, Grêmio, Paysandu, Sertãozinho, Monte Azul, Coreia do Sul, China e Portugal até chegar ao Tupi.

- O veterano Ademílson, centroavante de 37 anos, teve sua melhor fase no Botafogo do Rio, em 2002. Não é muito habilidoso, mas é um touro. Seu passaporte tem carimbos do México e da Bélgica. Chegou ao Tupi em 2007 e tem sido tão importante para o clube que ganhou o título de cidadão honorário de Juiz de Fora.

- E o xodó da torcida é Allan Taxista, um jogador que começou a jogar profissionalmente só em 2006, aos 27 anos. Antes, como diz o nome, dirigia um táxi na cidade. Mas se destacava tanto nos jogos de várzea que acabou chamado para o time profissional.

Para dirigir a equipe, o escolhido foi Ricardo Drubscky, professor de Educação Física e autor do livro “O Universo Tático do Futebol – Escola Brasileira”. Em sua carreira trabalhou principalmente com divisões de base, como no Cruzeiro-MG e no Atlético-PR, o que deve ter ajudado com os novatos do time de Juiz de Fora.

Outro fator que contribuiu para o sucesso do Tupi foram os patrocinadores. Há alguns mais portentosos, como o banco BMG (que patrocina vários times da primeira divisão nacional) e a MRS, uma grande operadora ferroviária de cargas, além de outros menores, como um supermercado da cidade, uma academia de ginástica e uma concessionária. E, é claro, há uma ajuda da prefeitura, o que sempre me parece errado, pois prefeituras têm que gastar é com necessidades básicas, como educação e saúde.

De qualquer forma, o dinheiro do patrocínio chegou um pouco tarde. Em 2009 o clube vendeu praticamente a metade da área de sua sede social a fim de sanar dívidas. E em fevereiro deste ano teve a água cortada por falta de pagamento.

Pois bem, eu vos pergunto: O que há em comum entre os quatro clubes do TOSC?

E eu vos respondo: Uma melhora de gerenciamento.

Eles partem de princípios diferentes. O Cuiabá é um time-empresa, enquanto o Tupi é apoiado pela prefeitura. O Oeste tem um investidor como dirigente, enquanto o Santa Cruz passou a ser comandado por políticos (o atual presidente é vereador e o anterior é o atual Ministro da Integração Nacional).

Mas os quatro sofreram uma mudança de gestão que os fez dar um salto de qualidade.

Duas ou três boas gestões melhoram um bocado a vida de um clube.

Talvez seja o mesmo que ocorreu no Brasil. Na última década e meia tivemos um pouco mais de competência e subimos de divisão.

Mas é bom lembrar que ainda estamos na Série C.



José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.

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Esportes: entre mercadoria e política pública - Paulo Kliass

Esportes: entre mercadoria e política pública - Paulo Kliass

A pergunta que não cala após o término do Pan: como é possível que Cuba, uma pequena ilha com pouco mais de 11 milhões de habitantes, sofrendo todo tipo de dificuldade econômica derivada do embargo imposto pelos norte-americanos, consiga um desempenho geral mais elevado do que o Brasil na competição?



Os últimos dias têm sido pródigos na divulgação de informações e fatos relevantes a respeito do esporte em nossas terras. E vejam que não se trata aqui dos resultados do campeonato brasileiro de futebol ou da performance de times brasileiros nos campeonatos latino-americanos.

Não, não! Dessa vez a semana veio carregada com o anúncio da troca de comando no Ministério do Esporte (ME) e com o balanço do desempenho das principais delegações nacionais presentes nos Jogos Pan-Americanos no México. E esses dois fatos relevantes simbolizam bem a situação a que o esporte tem sido relegado em nosso País.

A demissão do ministro Orlando Silva teve por base um conjunto de denúncias envolvendo um programa do ME, o chamado Segundo Tempo. Trata-se de uma tentativa de desenvolver atividades esportivas pelo Brasil afora, dirigida aos jovens, em várias modalidades, mas por meio de convênios efetivados entre o ministério e as famosas Organizações Não Governamentais (ONGs).

O encerramento dos Jogos do Pan em Guadalajara confirmou, mais uma vez, a posição do Brasil em terceiro lugar na competição. Como o critério classificatório é o número de medalhas de ouro obtidas ao longo do certame, ficamos de novo atrás dos EUA e de Cuba. Não apenas tivemos menos medalhas de ouro que os cubanos (48 contra 58), como vimos reduzir o número das mesmas em relação ao Pan de 2007, quando havíamos alcançado 54 delas.

Ora, a pergunta que não calou durante vários dias, assim como vem ocorrendo há várias décadas, após cada evento esportivo dessa natureza: como é possível que Cuba, uma pequena ilha com pouco mais de 11 milhões de habitantes, sofrendo todo tipo de dificuldade econômica derivada do embargo imposto pelos norte-americanos, consiga um desempenho geral mais elevado do que o Brasil na competição? Afinal desde 1971 que Cuba nunca mais perdeu a segunda colocação, sempre atrás dos norte-americanos. É claro que a resposta a tal indagação envolve um conjunto amplo de fatores, de natureza econômica, política, social, geo-política, cultural e esportiva.

Mas, sem sombra de dúvida, as razões têm muito a ver com as posições de Cuba em termos de outras avaliações de suas políticas nacionais. Por exemplo, com certeza devem estar relacionadas ao fato de ela apresentar um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais elevado que o Brasil (51ª posição contra 84ª posição), ao fato de ela apresentar uma taxa de analfabetismo bem mais reduzida do que a nossa (0,2% contra 9,6% no total da população de 15 anos ou mais) e ao fato de registrar um índice de mortalidade infantil também bem mais reduzido do que o brasileiro (4,9 por mil contra 19.8 por mil nascidos vivos). Ou seja, um conjunto de políticas públicas para saúde e educação que proporciona resultados positivos, ao que tudo indica, em termos de melhoria da qualidade de vida de sua população.

No caso do esporte, também não é muito diferente. No Brasil, permanece subjacente no debate a contradição entre: i) encarar o esporte como apenas uma mercadoria a mais no amplo rol das prateleiras oferecidas pelo capitalismo; ou ii) assumir a importância estratégica do esporte como elemento integrante do conjunto de políticas públicas a serem desenvolvidas pelo Estado. O mais grave é que, ainda sob o efeito paralisante dos anos de chumbo do neoliberalismo, pouco se avançou na superação desse dilema ao longo dos últimos anos.

A realidade se incumbiu de demonstrar que apenas o fato ter criado a estrutura ministerial exclusiva em 2003 não bastou. Foi, sem dúvida alguma, um passo importante dado pelo ex Presidente Lula no início de seu primeiro mandato. Até então, o esporte sempre estivera em pastas com outras áreas, como a educação e, mais recentemente, o turismo. Porém, ficamos na triste constatação de que um ministério específico é uma condição necessária, mas não suficiente. A face da mercantilização da atividade esportiva não apenas continuou inalterada, como acabou sendo reforçada pela forma como os diferentes ocupantes do ME trataram do tema.

O futebol é o paradigma mais evidente desse processo de transformação da atividade esportiva em mercadoria. Apesar de não ser o único caso, sua importância simbólica no imaginário popular e nacional faz com que a mercantilização seja amplamente difundida e até mesmo aceita por parcelas significativas da sociedade. Mas poderíamos citar também os casos do automobilismo, do basquete, do voleibol, do tênis e tantos outros. À medida que ganha importância e popularidade, o evento esportivo e o mundo dos esportes ganham um espaço especial e muito valorizado nos grandes meios de comunicação. A ponto destes últimos fazerem valer sua vontade junto ao próprio poder público. Um dos exemplos mais expressivos disso é a exploração privada da imagem de um dos elementos simbólicos da Nação – a seleção brasileira de futebol. Aquilo que deveria ser monopólio da União é fonte de negociação e vultosos lucros entre as empresas privadas.

Por outro lado, assuntos como salários dos profissionais, montantes dos valores negociados entre clubes, cifras constantes nos contratos dos patrocinadores, renda derivada da venda de ingressos e outros passam a ser tratados dentro de uma suposta “normalidade” de relações negociais. São números carregados de muitos zeros, milionários. Os clubes passam a ser operados como “empresas” e os objetivos concentram-se na esfera do “businness” puro e simples. E aqui não se fala apenas de uma gestão mais eficiente (o que é sempre bem vindo), mas da busca do lucro e da acumulação a todo momento e a qualquer custo. O espírito esportivo? Bem, esse “pequeno detalhe” termina por passar muito longe de tudo isso.

A constituição do esporte como agenda prioritária no conjunto de políticas públicas do Estado deveria justamente criar um sistema esportivo que operasse como contraponto a esse arsenal empresarial já existente e que não precisa nem merece tanto recurso público assim. Isso significa buscar a formação esportiva lá onde atuou a maioria dos países que obtiveram sucesso: a população jovem nas escolas. Ou seja, incorporar a atividade esportiva, de forma efetiva, como elemento indissociável da formação escolar. Assim, aliás, como as atividades artísticas em geral e a música, em particular. Desnecessário registrar que, apesar da prioridade aqui proposta, isso não significa que o ME não deva manter outros programas, como a terceira idade, portadores de necessidade especial, e outros.

Assim, é necessário romper com a aparente contradição entre a visão do esporte de alto rendimento e a visão do esporte como política social e como instrumento de universalização e de cidadania. Sim, pois à medida que a política pública se viabiliza por meio da universalização do acesso à formação e à atividade esportivas, naturalmente estão criadas as condições para o surgimento dos grandes talentos. Dessa forma, esses jovens diferenciados – os futuros “craques” - poderão ser encaminhados para estruturas de aperfeiçoamento desse potencial esportivo de alto nível. E o mais importante é que o foco de todo esse processo não é simplesmente a obtenção de títulos e/ou medalhas. Isso virá como conseqüência de um processo de ganhos de qualidade de vida, de satisfação pessoal e coletiva, de melhoria comprovada no rendimento escolar, de elevação nos padrões de saúde pública, dentre tantos outros ganhos de natureza social.

E então, a verdade é que estamos ainda muito longe de tudo isso. Como a prioridade do ME desde 2003 não foi a constituição de tal agenda de política pública, o esporte continuou distante da posição de elemento importante na pauta do governo. Os próprios dados do Orçamento da União contribuem para analisarmos tal fato.

Entre 2006 e 2007, por exemplo, de acordo com o Projeto de Lei Orçamentária (PLO) (nota 1) encaminhado pelo Executivo para apreciação pelo Congresso, mais de 60% dos recursos destinavam-se às obras para a realização dos Jogos do Pan Americano no Rio de Janeiro. Mais à frente, em 2010, o PLO encaminhado pelo Executivo para apreciação pelo Congresso totalizava um valor aproximado de R$ 400 milhões para o ME, sendo que a metade desse valor era destinado ao Programa Segundo Tempo – objeto do polêmico repasse para as ONGs.

Se mudarmos o enfoque da prioridade definida pelo Orçamento, poderemos verificar a importância dedicada pelo governo ao esporte definido como sendo de “alto rendimento”. No PLO de 2011, esses valores representavam quase 60% dos R$ 1,2 bilhão da proposta total do ME. Já na proposta de PLO para 2012, o item do programa sintomaticamente chamado “Esporte de Alto Rendimento – Brasil Campeão” apresenta um percentual superior a 80% do total de despesas de R$ 1,6 bi.

Outro aspecto revelador da forma como está sendo estabelecida a política do ME pode ser inferido a partir das informações relativas ao aumento da dotação orçamentária inicial encaminhada pelo Executivo. Em função da tramitação do PLO no Congresso Nacional, a Lei Orçamentária final pode aumentar os valores, em particular por meio das emendas parlamentares no interior da Comissão Mista do Orçamento (CMO). Em 2011, por exemplo, a dotação inicial quase dobrou de valor, saindo de R$ 1,3 para R$ 2,5 bi. Porém, o detalhe é que mais de 80% desse aumento deveu-se a emendas para construção de quadras esportivas e equipamentos similares espalhados pelos municípios do Brasil afora, ao que tudo indica sem qualquer critério de política de esporte integrada e coerente A proposta inicial do Executivo para o programa “Esporte e Lazer na Cidade” era de R$ 80 milhões e o valor foi multiplicado por 14, saltando para R$ 1,1 bi depois da negociação das emendas.

Não basta construir quadras sem um suporte pedagógico, sem estrutura de professores com competência na área esportiva e sem uma integração com a política educacional nacional, além de seus óbvios rebatimentos no plano municipal. Além disso, é preciso superar o complexo limitador de “terra do futebol” e abrir as alternativas para o desenvolvimento dos jovens de todo o País em outras atividades esportivas nas quais surgirão competências. É o mesmo raciocínio válido para a educação musical: não é pelo fato de “todo brasileiro nascer com ginga e samba no pé”, que não seja essencial difundir a formação da música como linguagem e o ensino de música erudita desde os primeiros anos da formação escolar básica.

Para a implementação esse projeto mais abrangente para o esporte, é fundamental romper com a lógica mercantil que se instalou em nosso meio. Esporte não pode ser encarado como mercadoria e esse tipo de enfoque não deve receber maiores privilégios pela ação do Estado. No Brasil, em especial, a atividade esportiva deve ser encarada como elemento de cidadania e inclusão social. Ou seja, aspecto indissociável de política pública de caráter universal e democrático.


Nota

(1) Todas informações são públicas e estão disponíveis na página da Câmara dos Deputados:
http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/orcamentouniao/atividade-legislativa/orcamentobrasil/orcamentouniao/loa/loa2012



Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5284&boletim_id=1044&componente_id=16717

Diga-me com quem "não" andas e te direi quem és - José Roberto Torero

Diga-me com quem "não" andas e te direi quem és - José Roberto Torero

Do mesmo jeito que nossos amigos nos definem, nossos inimigos também explicam quem somos. Não existiria Tom sem Jerry, Coyote sem Bip-Bip, Coringa sem Batman, Lex Luthor sem Super-Homem, MDB sem Arena. E, nesta reta final do Brasileiro, definem até se seremos ou não campeões, se seremos ou não rebaixados.

O célebre ditado bíblico bem poderia ser como está aqui no título, com este “não” a mais.

Do mesmo jeito que nossos amigos nos definem, nossos inimigos também explicam quem somos. Não existiria Tom sem Jerry, Coyote sem Bip-Bip, Coringa sem Batman, Lex Luthor sem Super-Homem, MDB sem Arena.
Os antípodas ajudam a definir nossa identidade. E, nesta reta final do Brasileiro, definem até se seremos ou não campeões, se seremos ou não rebaixados.

Quando começaram os pontos corridos tivemos alguns finais de campeonatos com jogos modorrentos e marmelosos. A imprensa chiou e a CBF finalmente colocou os clássicos estaduais e regionais nas últimas rodadas. Deu certo. Tanto que no próximo domingo teremos dois clássicos emocionantes, Corinthians x Palmeiras e Vasco x Flamengo, jogos que definirão o Campeonato Brasileiro.

Serão partidas memoráveis para os vencedores e, infelizmente, inesquecíveis para os perdedores.

Para corintianos e vascaínos será a chance de uma alegria dupla: ser campeão e ainda vencer seu arqui-inimigo. Uma festa completa. A glória conquistada contra o grande adversário no momento final, assim como num filme da Sessão da Tarde.

Para palmeirenses e flamenguistas será a oportunidade de ganhar um campeonato de consolação, o campeonato de um só jogo. Os palmeirenses chegam a falar em “salvar o ano” com uma vitória sobre o Corinthians.

As declarações dos palmeirenses são explícitas. Valdívia disse que “É uma questão de honra”, Deola falou “Temos que vencer de qualquer jeito”, e o presidente palmeirense prometeu bicho em dobro.

Por outro lado, Tite, o técnico do Corinthians, diminui a temperatura do jogo dizendo: "É muito pobre o cara se motivar para ferrar o adversário".
Pode ser pobre, mas é humano. Trazer a tristeza ao inimigo também é uma forma de ser feliz.

E ainda outros duelistas. No Sul, por exemplo, o Grêmio tentará impedir o Inter de se classificar para a Libertadores. Por sua vez, o Colorado lutará para que o Grêmio não entre na Sul-Americana.

Coritiba e Atlético-PR farão um clássico de esperanças. O Atlético tem que vencer para escapar do rebaixamento. O Coritiba precisa da vitória para ir à Libertadores. Um precisa ganhar para chegar ao céu, o outro, para escapar do inferno. E os dois lutarão pra impedir o sonho alheio.

Em Minas Gerais não é muito diferente. O Galo, mesmo já não tendo nenhum interesse no Brasileiro, vai se esforçar para vencer o ameaçado Cruzeiro, time que se gaba de nunca ter caído para a Série B.

Mesmo o já rebaixado Avaí vai se esfalfar para impedir que o Figueirense chegue à Libertadores. Seria uma vitória final que manteria a honra do clube. Uma vitória do sadismo.

O curioso é que muitos rivais talvez saíssem ganhando mais se se unissem. Mas vá falar a um torcedor do Guarani que seu time deveria se juntar à Ponte Preta para que Campinas tenha um time realmente forte. Vá falar a um comercialino que sua equipe e o Botafogo deveriam se unir e fazer o Ribeirão Preto Futebol Clube. Vá falar a um petista que seu partido é mais parecido com o PSDB do que ele pensa, e que os dois poderiam formar uma única e vitoriosa agremiação.

Não tem jeito. Há oposições que definem posições, inimigos que explicam quem somos. Mesmo que seja pior para todos.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5331&boletim_id=1067&componente_id=17080

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os emergentes: quatro caminhos e um atalho - José Roberto Torero

No futebol também temos emergentes. E eles formam o TOSC. No caso, os clubes são Tupi, Oeste, Santa Cruz e Cuiabá. Os quatro conseguiram o acesso para a Série C do Brasileiro. Eles são muito diferentes em algumas coisas e parecidos em uma.


Você certamente já ouviu falar no BRICS, um acrônimo que identifica o grupo formado por cinco países emergentes: Brasil, Rússia Índia, China e África do Sul.

Pois no futebol também temos emergentes. E eles formam o TOSC. No caso, os clubes são Tupi, Oeste, Santa Cruz e Cuiabá.

Os quatro conseguiram o acesso para a Série C do Brasileiro. Eles são muito diferentes em algumas coisas e parecidos em uma.

O Cuiabá é um jovem clube empresa, criado em 2001 pelo ex-jogador Gaúcho. Deu uma parada em 2006 e voltou às atividades em 2009 sob nova direção. Naquele ano ganhou a segunda divisão do campeonato mato-grossense e em 2011 foi campeão da primeira.

O Oeste é de Itápolis e já tem vetustos 91 anos. Em 1997 estava na quinta divisão do futebol paulista. Mas veio subindo e teve em 2011 o melhor momento de sua biografia, com a conquista do Campeonato Paulista do Interior e o acesso à Série C.

O Santa Cruz sofreu a mais rápida queda da história do futebol brasileiro. Foram três rebaixamentos seguidos. Em 2006 jogou a Série A, disputou a B em 2007, já estava na C em 2008 e foi parar na D em 2009. Mas este ano, dirigido pelo competente técnico Zé Teodoro e empurrado por sua torcida (por sua vez estimulada com o programa “todos com a nota”, que troca notas fiscais por ingressos), ganhou o Pernambucano e foi vice-campeão da Série D.

Mas é o Tupi é quem puxa a fila do TOSC. Neste domingo, o clube mineiro conquistou o Campeonato Brasileiro da Série D ao vencer o Santa Cruz em pleno Arruda, fazendo lágrimas rolarem dos 120 mil olhos presentes.

O time é uma mescla de jovens promissores e atletas experientes que ainda têm o que mostrar. E três destes veteranos são os ídolos do time:

- Luciano Ratinho, 32 anos, surgiu no Botafogo de Ribeirão Preto e depois virou um cigano, passando por Corinthians, Grêmio, Paysandu, Sertãozinho, Monte Azul, Coreia do Sul, China e Portugal até chegar ao Tupi.

- O veterano Ademílson, centroavante de 37 anos, teve sua melhor fase no Botafogo do Rio, em 2002. Não é muito habilidoso, mas é um touro. Seu passaporte tem carimbos do México e da Bélgica. Chegou ao Tupi em 2007 e tem sido tão importante para o clube que ganhou o título de cidadão honorário de Juiz de Fora.

- E o xodó da torcida é Allan Taxista, um jogador que começou a jogar profissionalmente só em 2006, aos 27 anos. Antes, como diz o nome, dirigia um táxi na cidade. Mas se destacava tanto nos jogos de várzea que acabou chamado para o time profissional.

Para dirigir a equipe, o escolhido foi Ricardo Drubscky, professor de Educação Física e autor do livro “O Universo Tático do Futebol – Escola Brasileira”. Em sua carreira trabalhou principalmente com divisões de base, como no Cruzeiro-MG e no Atlético-PR, o que deve ter ajudado com os novatos do time de Juiz de Fora.

Outro fator que contribuiu para o sucesso do Tupi foram os patrocinadores. Há alguns mais portentosos, como o banco BMG (que patrocina vários times da primeira divisão nacional) e a MRS, uma grande operadora ferroviária de cargas, além de outros menores, como um supermercado da cidade, uma academia de ginástica e uma concessionária. E, é claro, há uma ajuda da prefeitura, o que sempre me parece errado, pois prefeituras têm que gastar é com necessidades básicas, como educação e saúde.

De qualquer forma, o dinheiro do patrocínio chegou um pouco tarde. Em 2009 o clube vendeu praticamente a metade da área de sua sede social a fim de sanar dívidas. E em fevereiro deste ano teve a água cortada por falta de pagamento.

Pois bem, eu vos pergunto: O que há em comum entre os quatro clubes do TOSC?

E eu vos respondo: Uma melhora de gerenciamento.

Eles partem de princípios diferentes. O Cuiabá é um time-empresa, enquanto o Tupi é apoiado pela prefeitura. O Oeste tem um investidor como dirigente, enquanto o Santa Cruz passou a ser comandado por políticos (o atual presidente é vereador e o anterior é o atual Ministro da Integração Nacional).

Mas os quatro sofreram uma mudança de gestão que os fez dar um salto de qualidade.

Duas ou três boas gestões melhoram um bocado a vida de um clube.

Talvez seja o mesmo que ocorreu no Brasil. Na última década e meia tivemos um pouco mais de competência e subimos de divisão.

Mas é bom lembrar que ainda estamos na Série C.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5320&boletim_id=1060&componente_id=16944

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Copa do Mundo criou 'cidades neoliberais', avaliam urbanistas - Najla Passos

Decisões político-urbanísticas estariam subordinadas a interesses privados nas doze capitais brasileiras que vão sediar partidas da maior competição esportiva do planeta em 2014. Despejo de comunidades carentes por causa de obras e controle do espaço público para atender patrocinadores seriam exemplos visíveis de predomínio da lógica mercantil.


RIO DE JANEIRO – Comitês populares criados nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 reclamam que a realização do megaevento – e também da Olimpíada de 2016 – está motivando intervenções nos municípios que extrapolam a seara esportiva de modo prejudicial a seus habitantes. Queixam-se que os espaços públicos estariam sendo mercantilizados, que a especulação imobiliária corre solta, que famílias estão sendo despejadas por causa das obras.

Este tipo de crítica não se limita a quem muitas vezes está sentindo os problemas na pele. Também encontra eco em urbanistas. "Estamos frente a um novo pacto territorial, redefinido por antigas lideranças paroquiais, sustentadas por frações do capital imobiliário e financeiro, e amparadas pela burocracia do Estado”, disse Orlando dos Santos Junior, mestre e doutor em Planejamento Urbano e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Santos Junior integra o Observatório das Metrópoles, um instituto virtual que reúne cerca de 150 pesquisadores na discussão de temas urbanos. Para ele, os megaeventos esportivos alteraram o processo decisório nas cidades. Investimentos públicos e privados orientam-se agora em função dos eventos, não das necessidades das pessoas. Corte de impostos, transferência de patrimônio imobiliário e remoção de comunidades de baixa renda seriam exemplos disso. “Essas remoções são espoliações, já que as aquisições são feitas por preços muito baixos”, afirmou.

Mestre em arquitetura e urbanismo, a professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) Nelma Oliveira acredita que os megaeventos estão criando o que ela chama de “cidades neoliberais”. Nelas, decisões políticas e urbanísticas estariam subordinadas aos interesses privados. Isso seria visível nas regras de exploração comercial. “Existe um controle do espaço público para atender aos patrocinadores, que querem o espaço das cidades, e não apenas do estádio”, disse.

Além das comunidades carentes vítimas de remoção, Nelma aposta que trabalhadores informais e profissionais do sexo vão ser reprimidos. “Limpar a cidade e proibir a atuações desses grupos faz parte do processo de higienização das metrópoles”, afirmou a professora, que participou nesta sexta (18), junto com Santos Junior, de debate em seminário sobre comunicação que acontece no Rio.

Presente ao mesmo debate, o jornalista Paulo Donizetti, editor da Revista do Brasil, afirmou que os megaeventos deveriam ser uma oportunidade de a sociedade discutir políticas públicas. Mas o país não estaria aproveitando. “Qual poderia ser o legado humano desses eventos? Fala-se muito do legado físico, mas não se fala em aproveitar as Olimpíadas de 2016 e desenvolver uma política esportiva”, criticou.

Segundo ele, ao contrário de outros países latino-americanos, o Brasil não tem um programa esportivo universalizado. “Por que o esporte, no Brasil, é para poucos? Nós estamos preparando uma reportagem sobre a Copa e já descobrimos que 70% das escolas brasileiras não tem nenhuma quadra”, disse

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O divino delinquente - José Roberto Torero

Como o Santos vai disputar o mundial em menos de 50 dias, gostaria de entrevistar um jogador que tivesse participado do jogo último título em 1963, o 1 a 0 contra o Milan, no Maracanã. Para isso, recorri ao grande místico Zé Cabala, supremo correio dos espíritos, competentíssimo MSN das almas.
José Roberto Torero

Quando preciso entrevistar algum jogador que já enxerga a grama pelo lado da raiz, recorro ao grande místico Zé Cabala, supremo correio dos espíritos, competentíssimo MSN das almas. Foi o que fiz ontem.

“Há quanto tempo, nobre foliculário”, disse ele quando me viu chegar à porta de sua casa. “Quem vamos entrevistar hoje? Um craque? Um grande artilheiro? Se você estiver pensando num dirigente honesto, vai ser mais caro, que esses são difíceis de achar.”

Pouco depois estávamos em sua sacrossanta sala de meditação transcendental, que gente incrédula e sem lustro chamaria de quartinho dos fundos. Enquanto ele ajeitava o turbante, expliquei que, como o Santos vai disputar o mundial em menos de 50 dias, gostaria de entrevistar um jogador que tivesse participado do jogo último título em 1963, o 1 a 0 contra o Milan, no Maracanã.

Mal ouviu meu pedido, Zé Cabala começou a se concentrar, apertando tanto seu turbante que ele desceu sobre seus olhos. Então, de repente, deu nove giros ligeiros, uns passos de frevo, e, caindo na poltrona, disse com saboroso sotaque recifense:

“Almir Pernambuquinho, às suas ordens.”

Fui direto ao assunto: “É verdade que o senhor tomou anfetamina na final do Mundial de 1963?”

“Claro que é. O bicho era de dois mil cruzeiros. Dava para comprar um Volkswagen zerinho. E era normal tomar uns negócios para correr mais. Ainda mais que não tinha exame antidoping naquele tempo. Mas você acha que os caras do Milan não tomaram umas bolinhas? Claro que tomaram! Mas hoje em dia todo mundo posa de santo...”

“Naquela partida, o senhor jogou no lugar do Pelé?”

“Ele estava machucado. Eu peguei a camisa numero dez mais famosa do mundo e fiz uma promessa a mim mesmo: ‘Vou jogar por mim e pelo Negão’.”

“E o juiz estava comprado mesmo?”

“Olha, um dirigente do Santos disse que eu podia bater a vontade que o juiz não ia fazer nada. Mas o pênalti que eu sofri foi pênalti mesmo. É só olhar a imagem. É que ninguém vê. Vocês do esporte só ficam repetindo o que o que os outros jornalistas falam. Aí alguém disse que o pênalti foi cavado e todo mundo repete isso até hoje. É assim que mentira vira verdade.”

“E as brigas?”

“Bom, isso não é invenção, eu brigava mesmo. Desde o meu primeiro título, pelo Sport, em 1955. A gente ganhou o campeonato pernambucano juvenil, mas na final teve um garoto que me xingou o jogo todo. Quando a partida acabou, botei as chuteiras nas mãos, que nem luva de boxe, e fui atrás do sujeito.”

“Depois do Sport, o senhor foi para o Vasco?”

“Isso. Foi nessa época que começaram a me chamar de Pelé Branco. Mas o apelido que pegou mesmo foi dado pelo Nelson Rodrigues: Divino Delinquente.”

“Depois do Vasco...”

“O Corinthians me comprou por uma fortuna. Mas não dei sorte por lá. Só fiz cinco gols em 29 jogos. Então fui para o Boca Juniors, onde fui campeão argentino em 1962, depois dei uma passada por dois times da Itália, fui para o Santos, daí para o Flamengo, e acabei no América.

“Na seleção você não deu certo?”

“Nunca gostei de seleção. É coisa falsa. Os jogadores trocam porradas em seus times e lá parecia que nada tinha acontecido. Eu não aceito isso, não.”

“A sua briga mais famosa foi na final de 1966, não é?”

“É.”

“Dei uma pesquisada no Google e lá está escrito que o senhor começou a briga para que o Bangu não desse a volta olímpica.”

“Esse tal de Google inventa mais que vizinha fofoqueira. Não foi nada disso. É que um jogador do meu time, o Paulo Henrique, começou a se desentender com o Ladeira, do Bangu. Eu fui lá tirar satisfação. Quando o Ladeira me viu chegando, saiu correndo. Eu fui atrás dele. Para dar uma surra mesmo. No meio do caminho, o nosso zagueiro Itamar, um mulato de um metro e noventa, deu um salto e meteu o pé com vontade no peito de Ladeira. Ele caiu, eu vinha na corrida, fui logo chutando. O Ladeira saiu de maca e eu fui expulso.”

“Mas não foi só isso.”

“Não. Isso foi só o começo. Quando eu estava entrando no túnel, um dirigente do Flamengo gritou para mim: ‘Almir, volta lá e tira o Ubirajara do jogo!’. Ubirajara era o goleiro deles. Então eu dei meia volta e saí correndo atrás do Ubirajara. Aí foi uma briga generalizada. Soco e pontapé para todo lado. O juiz expulsou mais quatro jogadores do Flamengo e quatro do Bangu. Acabou a partida.”

“Até sua morte foi por causa de uma briga, não é?”

“Foi. Em 1973, eu estava num bar chamado Rio-Jerez, em frente à Galeria Alaska, no Rio de Janeiro. Estava com uma namorada e um casal de amigos. Na mesa da frente estavam os atores daquele grupo, os Dzi Croquetes, todos maquiados ainda. Numa outra estavam três portugueses que começaram a xingar os atores de veados e paneleiros. Eu resolvi defender os atores. Começou um bate-boca. Um dos portugueses sacou um revólver, meu amigo sacou outro e tiroteio começou. Uma bala entrou na minha cabeça. Foi meu último cartão vermelho.”

Saí da casa do nobre xamã com uma entrevista e uma certeza: Se o Santos quiser ser campeão mundial, tem que brigar. Mas sem perder a cabeça.



José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.


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Tabela da Copa: Brasil fora do Maracanã é ultraje histórico - Fernando Vives

Ao ser perfilado pela revista Piauí de julho último, Ricardo Teixeira, o chefão da CBF, gabava-se indiretamente de ser um homem de negócios muito mais que um homem de futebol. De fato, ele pouco se importa com o esporte, e isso mais uma vez ficou claro na divulgação do calendário da Copa do Mundo 2014, sob responsabilidade dele e do secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke.

A lista de jogos e cidades-sedes criadas pela dupla após 57 versões mostra que o Brasil só vai jogar no Maracanã caso chegue à final. Se não chegar, o novo mundial brasileiro não terá o país-sede, também conhecido como o país do futebol, jogando no templo máximo do futebol nacional.

Leia também:
Ricardo Teixeira minimiza risco de Brasil não jogar no Maracanã
Após frustração, Porto Alegre foca preparação para 2014
Mauro Beting comenta o calendário da Copa 2014

Não preciso nem dizer que a hipótese de uma Copa na Inglaterra não ter os ingleses jogando ao menos uma partida em Wembley faria os locais gargalhar. O mesmo valeria, por exemplo, para um Mundial uruguaio sem que a Celeste jogasse no Estádio Centenário, ou uma Copa alemã deixando a cidade de Munique de fora do calendário da tricampeã mundial.

Maracanã, Centenário e Wembley são alguns dos cinco ou seis Vaticanos do futebol, com participações decisivas em grandes momentos históricos da modalidade.

Outro ponto relevante do calendário da Copa é a estranha predileção por Brasília que, ao lado do Rio de Janeiro, será a cidade que mais vezes sediará um jogo da Copa 2014: sete no total, entre as quais a decisão de terceiro e quarto lugares.

Brasília é uma cidade periférica no futebol brasileiro. Entre as cidades que estão no Mundial, só tem mais tradição futebolística que Cuiabá e Manaus.

É bom lembrar que a capital federal já foi palco de um escândalo recente envolvendo Ricardo Teixeira através de um amistoso disputado entre Brasil e Portugal no estádio do Gama, em Brasília, em 2008. Ele é suspeito de ter embolsado 9 milhões de reais de dinheiro público que teria como destino a organização do jogo.

Ricardo Teixeira tem ligações com Vanessa Almeida Preste, acionista da empresa Ailanto Marketing, que, sem qualquer tipo de experiência em organização esportiva, foi nomeada para promover o amistoso da seleção contra Portugal. O Distrito Federal, então governado pelo demista José Roberto Arruda, pagou 9 milhões de reais para a organização do jogo, o que chegou a ser classificado como "aberração" pelo Ministério Público.

Como se vê, quando trata de futebol, tudo leva a crer que Ricardo Teixeira pensa muito mais em negócios que no esporte em si. Pena que o futebol seja muito mais que isso.


http://br.noticias.yahoo.com/blogs/de-olho-na-copa/tabela-da-copa-brasil-fora-maracan%C3%A3-%C3%A9-ultraje-151344495.html

Brasil não sabe quanto custará a Copa

A Copa do Mundo no Brasil vai tomar forma na quinta-feira, quando a Fifa divulgará o calendário com datas, locais e horários dos jogos. No dia 30, completam-se quatro anos que o País foi anunciado como sede da competição. Desde então, algumas coisas foram feitas, mas há muito por fazer. Os estádios ficarão prontos a tempo. O mesmo não se pode garantir em relação aos aeroportos e às 49 obras de mobilidade urbana ligadas à Copa. "Certeza" absoluta, só uma: ninguém sabe quanto ficará a conta da empreitada.

No último balanço divulgado pelo governo federal, em setembro, o custo da Copa, considerando-se o dinheiro a ser investido em estádios, portos e aeroportos e em mobilidade urbana, foi estimado em R$ 27,1 bilhões. Aumento de cerca de 14% em relação aos R$ 23,1 bilhões do balanço de janeiro e de 26% sobre os R$ 21,5 bilhões de previsão feita em 13 de janeiro de 2010, quando o ex-presidente Lula assinou a Matriz de Responsabilidade.


Esses R$ 27,1 bilhões estão a anos-luz de uma estimativa feita pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que calculou em R$ 112 bilhões o custo com a Copa. O estudo da associação, que tem parceria técnica com a CBF e o Ministério do Esporte, inclui também gastos com hotelaria, segurança, tecnologia e saúde, entre outros. Mesmo assim, a diferença é grande, pois o balanço do governo acrescenta apenas R$ 10,3 bilhões para esses itens.


Os números são mesmo conflitantes. Na sexta-feira, o governo divulgou atualização na Matriz de Responsabilidade e a conta baixou para R$ 26,1 milhões. "A Matriz é um documento que precisa ser atualizado com os ajustes que são feitos enquanto a obra está em andamento. Isso é essencial para a transparência do processo", esclareceu Alcino Reis, secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte. Mas não evita, ou diminui, a confusão. No mesmo dia, a Controladoria Geral da União (CGU)inaugurou ferramenta no portaldatransparência.gov.br que permite acompanhar os custos estimados por área de investimento. Valor da soma dos gastos com estádios, aeroportos e portos e mobilidade urbana: R$ 24,024 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

http://br.noticias.yahoo.com/brasil-sabe-custar%C3%A1-copa-095400862.html

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os privilégios que o governo propõe dar à Fifa na Copa de 2014 - André Barrocal

Lei Geral da Copa enviada ao Congresso propõe tratamento especial à Fifa, para que a maior entidade do planeta tenha controle total do Mundial de 2014 e de sua exploração comercial. Entre as poucas exigências à Fifa, estão a cessão de parte do tempo dos jogos a todas as TVs e 'ficha limpa' para estrangeiro que pedir visto. A brasileiros, garante-se feriado em dia de jogo.

BRASÍLIA – A Organização das Nações Unidas (ONU) realiza nesta quarta-feira (21), nos Estados Unidos, sua Assembléia Geral anual, da qual podem participar líderes dos 193 países membros. Criada para ser o grande fórum político global, a ONU ainda está a 15 países de distância do posto de maior entidade planetária. Ele pertence à Federação Internacional das Associações de Futebol e ajuda a entender porque o Brasil – como outros países no passado – dará tantos privilégios legais à Fifa durante a Copa de 2014.

O tratamento especial está definido numa proposta de Lei Geral da Copa que o governo mandou ao Congresso nessa segunda-feira (19). O texto, de 46 artigos, tenta garantir que a Fifa tire proveito máximo das possibilidades comerciais da Copa. Possa promovê-la com as pessoas que bem entender. Tenha controle total da realização de – e do acesso a - cada jogo ou evento da competição. Faz dela uma personalidade que pode ser protegida do ponto de vista criminal, entre outras coisas.

A parte mais extensa do projeto diz respeito à propriedade intelectual de símbolos e marcas da Fifa e da Copa. Todos poderão ser registrados no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) de forma especial: de graça e em até 60 dias. Eles serão informados pelo INPI ao NIC.br, órgão encarregado de gerenciar domínios na internet, para que nenhum domínio seja registrado com nada que lembre as marcas da Copa e da Fifa.

Falsificar e comercializar símbolos oficiais da Copa e da Fifa ou tentar explorá-los comercialmente sem aval da entidade, serão considerados crimes. A punição pode chegar a um ano de cadeia.

A Fifa e seus parceiros estão liberados para fazer publicidade nas ruas próximas dos estádios. E terão a ajuda do governo, do estado e da prefeitura para isso. Mas quem, sem o aval da Fifa, se aventurar a fazer mesmo, ainda que utilizando veículos, balões ou embarcações, poderá ser punido do ponto de vista civil - com multas e indenizações.

Exibir um jogo em associação com uma marca que não é parceira da Fifa e sem autorização da entidade, também resultará em sanção civil. O valor será calculado depois, caso a caso – não está previsto no projeto.

A transmissão dos jogos, como em todas as Copas, é exclusiva para emissora de TV que comprar os direitos. Mas, em uma das poucas imposições que faz à Fifa, o projeto obriga a entidade a ceder pelo menos 10% de cada partida e 30 segundos das cerimônias de abertura e encerramento da Copa, às emissoras brasileiras sem os direitos comprados.

A Fifa terá de fazer um vídeo de ao menos 6 minutos, no máximo até duas horas depois de cada a partida ou evento, para que o veículo selecione o conteúdo que lhe interessa e possa exibir em sua programação jornalística.

O acesso das pessoas e da imprensa aos eventos será controlado de forma absoluta pela Fifa. Ela é quem dará credencial ou não para os jornalistas, por exemplo. O preço os ingressos será definido exclusivamente pela entidade e não precisará constar dos bilhetes, como o Estatuto do Torcedor obriga no Brasil. E não basta que a pessoa tenha ingresso. Para entrar no estádio, não poderá usar camiseta com mensagens racistas ou xenófobas, nem entoar cantos com conteúdo igual.

Já a Fifa poderá botar para dentro do estádio – e até do país – quem bem entender. Todo mundo que a entidade indicar como pessoa envolvida na organização e realização da Copa, vai receber visto de imigrante em regime especial - mais rápido.

Em uma das outras poucas exigências que faz à Fifa, porém, o projeto ressalva que algumas condições previstas em lei de 1980 que criou o conselho nacional de imigracão, devem ser seguidas. Por exemplo: não poderão receber vistos pessoas consideradas nocivas à ordem pública, condenadas e que podem ser passíveis de extradição, menores desacompanhados dos pais ou que não atendam condições de saúde definidas pelo ministério da Saúde.

Depois de tantos privilégios à Fifa e à Copa, o projeto reserva ao menos um aos brasileiros. Governo federal, estados e municípios poderão decretar feriado em dias de jogos. Os estados e municípios de cidades sede da Copa poderão fazê-lo independentemente do governo federal ou de ser jogo do Brasil. São 12 cidades sedes: Rio, São Paulo, Brasília, Salvador, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Cuiabá, Manaus, Fortaleza, Natal e Curitiba.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18518&boletim_id=1009&componente_id=16225

Cidades-sede de jogos da Copa poderão decretar feriado

A Lei Geral da Copa, enviada hoje (19) pelo governo ao Congresso Nacional, prevê que o Distrito Federal, os estados e municípios poderão decretar feriado nos dias em que forem disputados em seu território jogos da Copa do Mundo de 2014. O mesmo direito é estendido à União.

O texto da lei, que agora será discutido por deputados e senadores, dispõe sobre as medidas relativas a eventos esportivos internacionais vinculados à Copa do Mundo de 2014, incluindo as responsabilidades da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e da União, a proteção de símbolos oficiais e as punições para quem falsificar produtos licenciados.

Sobre os ingressos, o texto da lei determina que o preço será fixado pela Fifa, que também fica responsável pela venda. Outro item trata dos vistos de entrada e das permissões de trabalho que serão concedidas sem restrições até 31 de dezembro de 2014 a integrantes da delegação e convidados da Fifa, representantes da imprensa e espectadores com ingresso ou confirmação de aquisição de ingressos.

A lei ainda define que, no período do evento, caberá à União oferecer segurança, saúde e serviços médicos, vigilância sanitária, alfândega e imigração.

http://br.noticias.yahoo.com/cidades-sede-de-jogos-da-copa-poder%C3%A3o-decretar-feriado.html

sábado, 9 de julho de 2011

Professor/a da Rede Pública

sábado, 2 de julho de 2011

Paralização Nacional da Educação: a Marcha de Santiago, no Chile!

Consciência e Coragem: Viva a população chilena que foi à rua pela EDUCAÇÃO PÚBLICA, de qualidade, de direito, gratuita! Lição do corpo de estudantes para mundo! Força na nossa luta!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

AÇÃO FAVORÁVEL AOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO!

CORTE DE PONTO PROIBIDO! SEM DESCONTOS PARA GREVISTAS E SEM IMPEDIMENTO DE TRANSITAR NAS ESCOLAS PARA CAMPANHA!

GREVE NA REDE ESTADUAL- 1X0 PARA A CATEGORIA

Processo nº:
0181463-81.2011.8.19.0001
Tipo do Movimento:
Despacho
Descrição:
Trata-se de AÇÃO CIVIL PÚBLICA interposta por SINDICATO ESTADUAL DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO -SEPE/RJ em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, objetivando liminar para que seja determinado ao réu, através de seu representante legal, de abster-se de suspender o pagamento ou de descontar os dias paralisados nos vencimentos e salários dos servidores da rede estadual de educação, abarcados pelo movimento grevista, bem como se obrigue a não fazer qualquer retaliação, pelo mesmo motivo de greve. Todavia, para o fim de análise do pedido em sede liminar, entende esta Magistrada, com base no poder de cautela geral recomendado nas decisões judiciais, e levando-se em consideração o clamor público que venha a ser gerado, mister se faz a oitiva de todos os interessados para melhor apreciação dos reflexos oriundos do deferimento ou não da medida pretendida. Desta feita, com base no art.12 da Lei 7.347/85 c/c art. 125, IV do CPC, na forma do permissivo artigo 19 da Lei 7.347/85, designo audiência especial para o dia 28/06/2011 às 15,30 horas. Publique-se e intimem-se, COM URGÊNCIA e pessoalmente as partes, através de seus representantes legais, bem como dê-se ciência ao MP. Outrossim, dê-se ciência da presente ao Excelentíssimo Senhor Governador do Estado do Rio de Janeiro, bem como ao Ilustríssimo Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro.


NOSSA MOBILIZAÇÃO E A IDA DA COMISSÃO AO TJ FOI FUNDAMENTAL PARA QUE ISSO PUDESSE ACONTECER.
AGORA, O GOVERNO TERÁ QUE SENTAR À MESA, EM DIA E HORA MARCADA.
VIVA NOSSA MOBILIZAÇÃO!
QUE AMPLIEMOS A GREVE.
AQUELES QUE AINDA TINHAM DÚVIDA DE NOSSA FORÇA, ESTÁ AÍ A RESPOSTA.
AQUELES QUE USAVAM O DISCURSO QUE TINHAM SUAS CONTAS PRA PAGAR, JÁ NÃO PRECISAM SE PREOCUPAR MAIS COM ISSO. A JUSTIÇA FOI JUSTA!

A GREVE CONTINUA! LEIA COM ATENÇÃO!



Milhares de profissionais das escolas estaduais decidiram há pouco em assembléia no Clube Municipal, na Tijuca (foto), continuar a greve da categoria. A greve começou dia 7 de junho e até hoje o governo não fez uma contraproposta às principais reivindicações da categoria, que são: reajuste emergencial de 26%; incorporação imediata da gratificação do Nova Escola (prevista para terminar somente em 2015); descongelamento do Plano de Carreira dos Funcionários Administrativos.

A categoria vai realizar panfletagens e atos em todo o estado e na capital; na quarta, dia 22, o Sepe realiza uma vigília em frente à Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), a partir das 14h. Neste dia, o secretário Sergio Ruy irá receber uma comissão do sindicato e parlamentares. Ainda na quarta-feira, a partir das 18h, os profissionais de educação realizam um ato-show na Praça XV, Centro do Rio, que terá o nome: “SOS Educação”.

No domingo, dia 26, a educação estadual, bombeiros e diversas outras categorias de servidores realizam caminhada no Aterro do Flamengo, com concentração em frente ao Castelinho do Flamengo, às 10h (professores e funcionários vestirão preto). A próxima assembleia será dia 29 (quarta), às 14h, também no Clube Municipal.

No dia 28, a 3ª Vara da Justiça da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio irá analisar o pedido de liminar do Sepe contra o corte do ponto dos profissionais de educação do estado. Todas as partes foram convocadas para a audiência, incluindo o sindicato, governo do estado e Ministério Público. Neste dia, os profissionais de educação vão realizar uma passeata da Candelária até o Fórum, a partir das 12h – a categoria pretende abraçar o TJ, representando a esperança que a Justiça reconheça a justeza da greve.

No dia 9, a partir de iniciativa do sindicato, ocorreu uma audiência com o secretário estadual de Educação Wilson Risolia. Ele informou, no entanto, que somente no segundo semestre é que o governo poderá falar alguma coisa sobre reajuste salarial. Para o Sepe, o governo vem tratando com descaso todos os pleitos salariais desde o início do primeiro mandato do governador Sérgio Cabral, em 2007.


Resumo Calendário:
Assembléia de segunda (dia 20/6) votou pela continuidade da greve no estado!

Dia 21 - Atos descentralizados nos municípios. Em Caxias, reunião
comando de greve às 9 horas. A tarde panfletagem no sinal da Praça do
Pacificador, em frente ao Mc Donalds

Dia 22 - Carreata da Baixada Fluminense (roteiro será organizado no dia 21) até o Centro do Rio de Janeiro. Encontro às 14 horas na Cinelândia, saída em direção a SEPLAG para fazer vigília enquanto o SEPE será recebido em audiência pelo secretário Sergio Rui.

Dia 26 - Passeata em apoio aos bombeiros no aterro do Flamengo. 10 horas em frente ao Castelinho, Flamengo.

Dia 27 - Twitaço - Acessar site do SEPE para confirmar endereço eletrônico. Assembléias locais. Confirmar com SEPE Caxias local e hora.

Dia 28 - Passeata da Candelária até o Fórum para acompanhar audiência de conciliação (15 horas). Concentração a partir das 13 horas.

Dia 29 - Assembléia geral


Pequeno relatório:

Estamos vivendo um grande momento na face do planeta; revoluções estouram por todos os cantos; greves sistemáticas vêm acontecendo; são tempos de mudanças não só de mentalidades, mas de práticas!
No Rio de Janeiro já perdemos a noção de quantos municípios estão em greve na educação e/ou na saúde. A educação estadual não está em greve sozinha, mais de dez estados da federação estão também em greve! Citando alguns exemplos, estão Minas Gerais, Alagoas, Santa Catarina, Amapá e Rio Grande do Norte. Outros setores do funcionalismo público estão se unindo e o caminho é uma greve estadual unificada e geral, caminhando para uma greve nacional, já que o governo federal tem mantido suas iniciativas de precarização e privatização da educação pública. Os bombeiros já estão se preparando para irem para o Congresso Nacional lutar por sua dignidade e pela anistia. Enquanto isso, Cabral tira licença e vai pra Bahia. Há dois anos atrás, ele estava na França, enquanto a Tropo de Choque batia em profissionais de educação em greve em manifestação tranqüila na ALERJ, pelo Centro do Rio. O PIG (Partido da Imprensa Golpista) ameniza ou simplesmente ignora todos os movimentos sociais que vêm acontecendo, quando não nos criminaliza e nos trata como bandidos.

Em Natal, estudantes, com apoio da população, ocuparam a Câmara Municipal exigindo impeachment da prefeita, suspeita de superfaturamento. Em Belo Horizonte, operários da construção civil pararam as obras por aumento de salários e condições de trabalho. Profissionais da educação e servidores das universidades estão em greve de norte a sul do país. Os profissionais da saúde e educação do Amapá também estão em greve.
Os servidores da FAETEC estão em estado de greve, os da saúde estão se mobilizando e participando. Servidores da UFRJ, UniRio, UFF também permanecem em greve.

O governador oferece míseros 5% de aumento aos bombeiros com o argumento da “responsabilidade com equilíbrio das contas públicas”, justificando que seria um gasto muito elevado. O governo esqueceu esta suposta respnsabilidade quando entre 2007 e 2010 concedeu mis de 50 bilhões em isenção fiscal, sem contar com as isenções de impostos concedidas recentemente ao MetroRio, Barcas AS e à Supervia, que prestam um péssimo serviço à população. A educação do estado é considerada uma das piores do país, a saúde agoniza e os planos de segurança pública tão alardeados já se mostram ineficientes no atendimento das necessidades da população POBRE. Enquanto isso, a presidente Dilma favorece grandes empresários, banqueiros e corruptos, trabalhadores de diversas categorias sofrem com a inflação, as perdas salariais e a retirada de direitos.

A unidade das lutas amplia as possibilidades de vitória das categorias. As demandas dos trabalhadores são as mesmas, por isso é uma necessidade construir um dia nacional de paralização para exigir aumento salarial. No Rio de Janeiro, isso é um passo urgente!
E você, estudante ou profissional de educação? Cadê você nesta luta? Ainda está indo à escola? Precisamos de todas as pessoas conscientes neste momento!!! As direções de escolas estão vendidas e não há mais motivo para esperar mudanças – temos que lutar!


CARTA ABERTA À POPULAÇÃO

Baixos salários e más condições de trabalho levaram profissionais de educação à greve!
Piso do professor: R$ 610,00 Piso de funcionário: R$ 433,00

O governo estadual é o responsável pelo descumprimento do direito de todo cidadão a uma educação de qualidade, pública e gratuita:
- só em 2011, 2.376 professores saíram da rede;
- temos que ter turmas com menos de 35 estudantes;
- temos que diminuir da carga horária de aulas;
- penúltimo lugar no IDEB;
- faltam professores, serventes, merendeiras e inspetores;
- escolas sucateadas precisando de reforma urgente, sem quadra, biblioteca, laboratório, informática etc.;
- reajuste emergencial de 26%, equivalente ao aumento de arrecadação do estado;
- incorporação imediata e total do Nova Escola;
- reformas urgentes nas escolas;
- regulamentação dos animadores culturais;
- descongelamento do plano de carreira dos funcionários;
- eleição direta para diretores e coordenadores; concurso público para professores e funcionários;
- paridade para aposentados;
- revitalização do IASERJ

"Quem não se movimenta não sente as correntes que o aprisionam" (Rosa Luxemburgo)

domingo, 19 de junho de 2011

Leiam essa interessante matéria. Pena que o Saint Pauli foi rebaixado...

[Martin Smith]

Se você odeia futebol com toda sua força, então leia. Se você ama futebol, então você tem que ler também.

Como posso fazer isso, ouço você perguntar. A resposta a este enigma reside em Hamburgo, Alemanha. Lá, localizado entre a Reeperbahn (a "rua da luz vermelha" de Hamburgo), docas e bairros de trabalhadores e imigrantes pobres está o estádio Millerntor, a casa do time de futebol Saint Pauli.

O Saint Pauli é, de longe, o clube mais de esquerda da Europa. O clube lançou agora uma nova camiseta com os dizeres "love Saint Pauli, hate racism" ("ame o Saint Pauli, odeie o racismo") que é inspirada pela mensagem do Love Music Hate Racism, festival político-musical antifascista na Grã-Bretanha. Fui convidado por um grupo de torcedores para falar sobre a nossa luta contra o movimento racista English Defence League, divulgar a nova camiseta deles e assistir a um jogo no mês passado.

Uma coisa te impressiona enquanto você faz o caminho até o campo. Em todo bar, toda loja e aparentemente todo prédio se vê a bandeira pirata, conhecida como Jolly Roger (Totenkopf, em alemão). O meu anfitrião neste dia é Bruno, um ex-squatter (squatters são ativistas que ocupam e vivem em lugares abandonados) e socialista libertário. Ele explica que a bandeira simboliza a luta dos clubes pobres contra os clubes ricos.

A segunda coisa que chama sua atenção é que os torcedores do Saint Pauli não são fãs comuns. Eles são uma mistura de punks, roqueiros tatuados, anarquistas, trabalhadores industriais e, além disso, tem mais torcedoras do que qualquer outro clube na Europa.

Esses torcedores são atraídos por um clube que veste seu coração político na manga e estimula uma cultura alternativa que floresce nas arquibancadas. Eles foram o primeiro clube europeu a promover uma cultura antiracista e antifascista nas arquibancadas. O time jogou um torneio em Cuba para mostrar solidariedade ao país nos anos 90 e Volker Ippig, goleiro do Saint Pauli na época, para ajudar a Revolução Sandinista na Nicarágua.

As partidas são como um festival. O time entra no campo ao som de "Hells Bells", música do AC/DC e quando marca um gol ouve-se no estádio "Song 2", música do Blur. Depois do jogo, caixas de som são colocadas fora do estádio e são feitas pequenas festas nas ruas.

Bruno me explicou que a transformação em um clube radical começou nos anos 80. Naquela época, o Saint Pauli estava jogando nas divisões inferiores.

Um grupo de squatters começou a comparecer nos jogos. Por brincadeira alguns começaram a trazer suas bandeiras piratas. Lentamente, o grupo cresceu e outros torcedores, cansados da mercantilização crescente e de elementos fascistas associados a outros clubes, começaram a acompanhar o Saint Pauli. Hoje você vê bandeiras de Che Guevara e faixas anarcossindicalistas erguidas por todo o estádio.

Até recentemente o presidente do clube era Corny Littman, um homem assumidamente gay. Alguns anos atrás, torcedores de um outro time entoaram cantos homofóbicos contra Littman. Quando o time fez o jogo de volta no estádio do Saint Pauli, as arquibancadas estavam totalmente cobertas por "bandeiras arcoíris", a resposta perfeita.

No ano passado, o Saint Pauli subiu para a Bundesliga, a primeira divisão do futebol alemão. A pressão para se manter no campeonato fez com que o clube sucumbisse a pressões comerciais. Assentos especiais foram criados e, inacreditavelmente, um dos espaços do estádio foi patrocinado por uma casa de strip de Hamburgo. Torcedores revoltados resisitram. A Socialromantiker, uma torcida do Saint Pauli, começou a cobrir as propagandas da casa de strip durante os jogos. A Jolly Roger foi erguida por fãs nas arquibancadas nos protestos contra o patrocínio de casa de strip.

Hoje não há mais propagandas e o clube encerrou o contrato de patrocínio com os donos da casa de strip. O poder dos torcedores venceu e as bandeiras piratas são vistas por todo o estádio.

Depois do jogo, sou levado por Bruno e alguns outros torcedores para o bar Jolly Roger. Está lotado de punks e de todos os adesivos antiracistas e antifascistas possíveis. Sou apresentado a quatro pessoas sentadas numa mesa fora do bar. Eles parecem estar ligeiramente fora de lugar. Não são punks ou roqueiros, nem estão com o uniforme do Saint Pauli dos pés à cabeça. Ainda assim, parecem ter um momento ótimo. Eles me dizem que são refugiados e procuram asilo, foram convidados por Bruno e seus amigos.

Bruno acrescenta: "Nos jogos em casa, nosso grupo convida um pequeno grupo de refugiados para vir ao jogo. Depois comemos e bebemos até altas horas da noite, nós pagamos por tudo. Nós éramos forasteiros. Agora encontramos uma casa. Nós queremos que essas pessoas tenham no Saint Pauli uma casa."

Para mim, isso resume a essência do Saint Pauli.

Portanto, você pode detestar futebol, mas como não amar o Saint Pauli? E se amar futebol como eu, pode imaginar algum lugar melhor para passar uma tarde de sábado?

http://www.revolutas.net/index.php?INTEGRA=1580

http://www.socialistreview.org.uk/article.php?articlenumber=11701

sábado, 18 de junho de 2011

Bombeiros e professores

14/06/2011 - 19:16 | Enviado por: Migliaccio (saiu nO Dia)

Bom, antes mesmo de iniciar este texto, sei que vão me acusar de estar contra os bombeiros. Mas não é nada disso. Ainda me lembro quando pequeno, ganhei um kit com capacete, cinto vermelho e um machadinho. Adorava aquele capacete preto com um arco dourado no alto.

Meu primo Marcos, então, era fanático pelos caminhões vermelhos que cruzavam as ruas em alta velocidade, tocando aquela sirene altíssima, a caminho de alguém em pânico em algum lugar da cidade. Num prédio em chamas, no fosso de um elevador ou mesmo no topo de uma árvore onde um bichano indeciso tinha nos bombeiros a última esperança para salvar a derradeira de suas sete vidas.

Só o que me espanta nesse movimento grevista que tomou conta do Rio é a adesão da população. Nada contra, a causa é justa. Soldados do fogo que arriscam suas vidas têm que ter uma remuneração digna, claro.

Assim como os policiais civis e militares, que deveriam ganhar, no mínimo, R$ 5 mil por mês.

Mas eu fico me perguntando quantas greves de professores aconteceram sem que a população lhes desse a menor pelota.

E nem bombeiro, nem policial, nem médico _ apesar da nobreza e da importância de seus ofícios _ têm tanta responsabilidade social quanto o professor.

No entanto, nunca vi a cidade sair as ruas de fita vermelha na mão para protestar contra o salário de fome dos nossos mestres docentes. O que espera um país, um estado, uma cidade que paga menos de R$ 1 mil por mês àqueles que vão formar os cidadãos de amanhã?

Evidentemente, tudo que se pode esperar é um amanhã igual ou pior que o triste hoje em que vivemos. Com os jovens saindo das faculdades sem nem saber escrever uma simples redação sobre suas últimas férias.

Mas os bombeiros, com sua aura de heróis, ganharam a adesão dos cariocas. A mídia ajudou bastante, depois de subestimar o movimento até não poder mais e de atribuí-lo a uma jogada política do ex-governador do Rio Garotinho. A desastrada invasão do quartel com mulheres e crianças, porém, por incrível que pareça, revelou-se um catalizador da opinião pública. E a greve ficou tão forte que o governador teve que ceder.

Tomara que os bombeiros consigam salários dignos. Eles merecem.

Mas e os professores, que mal ganham para comer que dirá para se aperfeiçoarem e educarem melhor nossas crianças? E esses educadores que arriscam suas vidas em escolas em áreas conflagradas e sofrem ameaças de alunos delinquentes e de pais piores ainda?

Quando vamos sair às ruas para que este país tenha uma educação decente?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

OBRIGATORIEDADE DE POLÍTICOS MATRICULAREM SEUS FILHOS EM ESCOLAS PÚBLICAS

Assine este abaixo-assinado online:

OBRIGATORIEDADE DE POLÍTICOS MATRICULAREM SEUS FILHOS EM ESCOLAS PÚBLICAS

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N7088

DIVULGUE para seus contatos.


Apesar da grande mobilização (ver em http://www.seperj.org.br ou em
http://lutaeducadora.blogspot.com/) da GREVE DA EDUCAÇÂO, a imprensa decidiu
censurar a população desta informação.

Todos estes atos foram ignorados ou a imprensa simplesmente ignorou a greve
da educação e noticiou como se fosse uma manifestação única e somente dos
bombeiros.



É necessário divulgar a GREVE DA EDUCAÇÃO e denunciar:

- o salário de fome pago (R$722) aos professores,
- as salas superlotadas,
- a ausência de funcionários nas escolas,
- a condição de vários prédios da rede que estão em situação catastrófica.
- entre outras situações!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

CABRAL, A CULPA É SUA: A GREVE CONTINUA!

Enquanto o Governo continua em sua investida contra o funcionalismo público, a Educação estadual se fortalece cada vez mais com a GREVE! Além de nós, os bombeiros, que continuam a luta, setores das polícias, metroviários, e a Saúde estão em estado de greve, com indicativo para entrar JUNTOS conosco nesta luta. Estamos prestes a ter uma greve unificada e geral! Há muito tempo sofremos o descaso do poder público através da precarização destes serviços – os mais fundamentais para toda a população, especialmente pobre e negra, do Estado.
Nossa GREVE já tem 90% de adesão na Baixada Fluminense. Escolas que tinham tradição de não parar, furando greves, como no município de Caxias, PARARAM! Dando mais um exemplo que é preciso unir TODA a Educação! Mas ainda falta muita escola e muito docente parar: na capital, temos 60% de adesão, e no interior do Estado chega a 40%. As redes municipais também estão parando junto com a rede Estadual. Estão em greve as redes de Macaé, Mesquita, São Gonçalo, Nova Iguaçu, São Francisco de Itabapoana, e em estado de greve com indicativo de greve, Niterói e Campos. A FAETEC também está entrando em GREVE!!!
Hoje, na Assembléia do SEPE, decidimos continuar a greve, simplesmente porque o governo está ignorando nossas demandas e criando pouco caso, como é de se esperar de quem manda bater em professor com a tropa de choque e manda prender bombeiros.
CABRAL, A CULPA É SUA: A GREVE CONTINUA!
Você, estudante, convoque suas professoras e seus professores que AINDA estão indo para a escola dar aulas para fazerem greve JUNTO com você e conosco! Você, profissional de educação, tem que parar! Professor, professora, ainda não se ligou no momento histórico que estamos vivendo e de sua importância nele? Esta luta já não é só de educadores, é de toda pessoa que sabe que precisamos mudar, impedindo gente como essa que está no governo acabar com tudo que conquistamos com sangue, lágrimas e suor!
Temos muito orgulho de ser o que somos!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Um ano depois da Copa, estádios da África do Sul amargam prejuízos

Governo sul-africano amarga prejuízo com a manutenção do Green Point. Em Porto Elizabeth, o cenário também não é nada animador

Por GLOBOESPORTE.COM
Cidade do Cabo, África do Sul


Nem tudo é motivo de comemoração na África do Sul um ano depois da realização da Copa do Mundo. A começar pela utilização do estádio Green Point, que fica na Cidade do Cabo e recebeu oito jogos no Mundial, incluindo uma semifinal. Apesar de receber turistas até hoje, ninguém quer usá-lo. Com capacidade para 58 mil pessoas e vista deslumbrante, o local só foi lembrado para 12 eventos. A empresa francesa que seria responsável pela administração depois da Copa desistiu. Viu que o negócio era prejuízo certo (assista ao vídeo da matéria que foi ao ar no Globo Esporte).

No dia primeiro de janeiro de 2011, a prefeitura assumiu o comando. Uma votação na Câmera de Vereadores determinou o destino do estádio. Acredite: uma das propostas era botá-lo abaixo. Optou-se pelo bom-senso. Pelos próximos três anos, o estádio será de responsabilidade do poder público municipal.

Sendo assim, Lesley de Reuck ganhou um dos empregos mais difíceis da África do Sul hoje. Ele tem a missão de fazer desse elefante branco algo lucrativo.

- Derrubar o estádio é uma ideia louca. Isso custou caro. E é um lugar único. Haverá solução. Estamos contratando profissionais pra isso - explicou o administrador.

Mesmo sem uso, o governo sul-africano gasta com manutenção do gramado e do teto. Todo mês, dezenas de funcionários têm que limpá-lo. O curioso é que a Cidade do Cabo abriga um dos maiores times de rugby do mundo: o Stomers, que se recusa a jogar no Estádio Green Point. O clube dispõe de um campo próprio, para 50 mil pessoas, e lucra muito com a venda de camarotes a cada temporada.

Há na cidade três times de futebol, mas nenhum deles com torcida suficiente para encher o estádio. Por isso, raramente jogam no local. Por enquanto, o Green Point é um exemplo de desperdício de dinheiro público. Foi o estádio mais caro a Copa: custou R$ 1 bilhão para mal ser usado.

Os problemas não param por aí. Sem times de futebol, Nelspruit precisa importar clubes populares. A prefeitura oferece dinheiro, eles jogam nessa cidade e enchem o estádio.
Em Porto Elisabeth, a sensação é que o passado foi apagado. As traves onde a Holanda fez os dois gols que eliminaram o Brasil nas quartas de final não estão mais no estádio. Desde o fim da Copa, esse estádio vive do rugby. Em um ano, ele não abriu as portas para um jogo de futebol sequer.

Na verdade, foram só 11 jogos da Segunda Divisão de rugby. A diretora de comunicação do estádio conta nos dedos o número de eventos. É constrangedor. Chega a citar um festival de vinhos para aumentar a lista.

A boa notícia é que em agosto a seleção de rugby vai jogar em Porto Elisabeth. Enfim, um evento digno do estádio. O pior é que histórias assim se repetem em outros estádios construídos para a Copa. Dos dez palcos do Mundial, só metade tem recebido jogos. A Copa passou, mas o prejuízo para os cofres públicos ficou.

http://globoesporte.globo.com/programas/globo-esporte/noticia/2011/06/um-ano-depois-da-copa-metade-dos-estadios-da-africa-do-sul-esta-ocioso.html

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A GREVE COMEÇOU!

Queridos e queridas estudantes, a partir de 7 de junho deste ano o lugar de todos que trabalham nas escolas estaduais é a rua. Nós estamos nas ruas! Prestem atenção nos noticiários, eu mesmo já apareci na TV num trechinho final do jornal do SBT de hoje (dia 8), quando profissionais de educação chegaram na ALERJ, depois de decidirem pela GREVE e pela solidariedade aos Bombeiros, para se juntar a eles, à noite! Foi um momento maravilhoso de união! Esta governo não é digno de nós! Tenho amigos que estão presos porque protestam contra esta ditadura disfarçada que vivemos! E isso será por pouco tempo! Mas nossa luta continuará enquanto houver atitudes deste nível em nossa sociedade! Esse é o motivo maior de ser um educador profissional!

Quando é professor, a tropa de choque bate...
Quando é bombeiro, a tropa de choque não vai, mas chamam o BOPE.
Este é o governo que se reelegeu...

Força! Luta! Pela educação! Por um mundo melhor!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Boicote ao GP do Bahrein de F1

Nesta sexta-feira, os brutais governantes do Bahrein podem ganhar direitos de sediar o prestigioso Grande Prêmio de Fórmula 1.
Mas muitos pilotos estão sentindo-se desconfortáveis com a perspectiva de correr em um país que tem torturado enfermeiras, estudantes e manifestantes inocentes. Vamos pedir a Red Bull -- a equipe liderante -- e a seus rivais que boicotem Bahrein até que a violência pare!

Red Bull construiu uma reputação como uma bebida esportiva e engraçada -- mas nesta sexta-feira, Red Bull e outras equipes liderantes de F1 podem ficar mais conhecidos por endossar tortura e assassinato por parte do governo. A Fórmula Um tem 24 horas para decidir se mantém sua corrida já atrasada no Bahrein, local de uma das repressões mais brutais no Oriente Médio.

Se Red Bull recusar-se a correr em Bahrein, outras equipes também se retirarão -- e a corrida de Fórmula Um poderia ser cancelada, enviando ondas de choque através do governo brutal do Bahrein e enviando uma mensagem inconfundível de que o mundo não ignorará a brutalidade do estado. Os boicotes do esporte já colocaram pressão sobre outros regimes como o apartheid na África do Sul -- podemos fazê-lo novamente.

Red Bull só agirá se um número suficiente de nós nos juntarmos para deixar claro que sua marca, e mesmo sua reputação, estão em jogo. Vamos lançar um grito que os assassinatos do governo do Bahrein não podem silenciar, e pedir a Red Bull que diga que não vai correr em Bahrein este ano. Se 300.000 de nós assinarmos a petição, a Avaaz irá promover duras campanhas de propaganda levando nossas mensagens aos executivos da Red Bull. Só resta mais um dia -- assine agora e encaminhe esta mensagem:

http://www.avaaz.org/po/no_f1_in_brutal_bahrain/?vl

O governo do Bahrein expulsou a mídia mundial -- chegando até mesmo a torturar uma jornalista trabalhando para um canal da TV francesa. Encobrindo essa violência está a legação de que tudo está calmo e ordenado. Isso é uma mentira gritante. De manhã cedo na semana passada bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas através de uma janela de um importante ativista de direitos humanos. Ele conseguiu apenas resgatar seu irmão, mulher e filha, que estavam perto de sufocar. Ele agora apela à Avaaz “para fazer o que puder para impedir que o governo me ataque e à minha família".

O Bahrein até mesmo demitiu e abusou de um quarto dos trabalhadores de seu circuito de F1. Um trabalhador muito ferido e cheio de hematomas disse que um policial “pôs a minha cabeça entre as pernas dele, me derrubou no chão - e então a pancadaria realmente começou”. Muitas pessoas ainda estão desaparecidas -- como um estudante que foi ferido durante o ataque à universidade do Bahrein. Médicos, jornalistas e outros fazem relatos angustiantes de tortura e abuso nas mãos da polícia.

Mais cedo este ano - antes que outros levantes tirassem Bahrein das manchetes - a corrida de Bahrein foi adiada. Mas agora o chefe da Fórmula 1 quer prosseguir com ela. Ele diz que seu negócio não é tomar parte em discussões políticas, mas sabe que correr em Bahrein em frente às câmeras do mundo todo vai fazê-lo tomar parte em um governo com as mãos sujas de sangue. Vamos nos levantar pelas enfermeiras, estudantes e outros habitantes do Bahrein que foram abatidos e feridos por dizer a Red Bull que dissesse não à F1 no brutal Bahrein. Se Red Bull concordar, outras equipes irão seguir. Assine a petição agora e envie a todo mundo:

http://www.avaaz.org/po/no_f1_in_brutal_bahrain/?vl

Os esportes que praticamos e assistimos podem nos elevar, mas também podem ser usados como penhor em jogos políticos. Juntos nós podemos mostrar que as pessoas que apoiam os direitos humanos em todo lugar superam o dinheiro e a brutalidade onde quer que seja.

Com esperança e determinação,

Alex, Sam, Ricken, Mia, Pascal e toda a equipe Avaaz


MAIS INFORMAÇÕES

Bahrein suspende estado de emergência em vigor desde março
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/06/110601_bahrein_estado_emergencia_cc.shtml

Bahrein tem dia de conflitos às vésperas da reunião da FIA
http://www.superesportes.com.br/app/1,188/2011/06/02/noticia_automobilismo,185990/bahrein-tem-dia-de-conflitos-as-vesperas-da-reuniao-da-fia.shtml

Governo do Bahrein abafa protestos na vespera de decisão sobre o GP
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2011/06/governo-do-bahrein-abafa-protestos-na-vespera-de-decisao-sobre-o-gp.html

Protestos no Bahrein bloqueiam via em confronto com a polícia
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/03/13/protestos-no-bahrein-bloqueiam-via-em-confronto-com-policia-924001259.asp

Manifestantes morrem em conflito com policiais no Bahrein
http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2011/03/manifestantes-morrem-em-conflito-com-policiais-no-bahrein.html

No Bahrein, 15 mil pedem a queda do regime no enterro de vítimas
http://exame.abril.com.br/economia/mundo/noticias/no-bahrein-15-mil-pedem-a-queda-do-regime-no-enterro-de-vitimas

Índia pode encerrar F1 se prova do Bahrein voltar ao calendário
http://esportes.terra.com.br/noticias/0,,OI5141261-EI1137,00-India+pode+encerrar+F+se+prova+do+Barein+voltar+ao+calendario.html

sexta-feira, 27 de maio de 2011

As salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas

As salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas do que a média de outros países avaliados em um estudo do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes)

O estudo, feito com dados de 2009 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta que, no Brasil, 67% dos alunos entrevistados disseram que seus professores “nunca ou quase nunca” têm de esperar um longo período até que a classe se acalme para dar prosseguimento à aula.

Entre os 66 países participantes da pesquisa, em média 72% dos alunos dizem que os professores “nunca ou quase nunca” têm de esperar que a classe se discipline.

Os países asiáticos são os mais bem colocados no estudo: no Japão, no Cazaquistão, em Xangai (China) e em Hong Kong, entre 93% e 89% dos alunos disseram que as classes costumam ser disciplinadas.

Finlândia, Grécia e Argentina são os países onde, segundo percepção dos alunos, os professores têm de esperar com mais frequência para que os alunos se acalmem.

O estudo foi feito com alunos na faixa dos 15 anos e dentificou que os distúrbios em sala de aula estão, em média, menores do que eram na pesquisa anterior, feita no ano 2000.

– A disciplina nas escolas não deteriorou – na verdade, melhorou na maioria dos países –, diz o texto da pesquisa.

– Em média, a porcentagem de estudantes que relataram que seus professores não têm de esperar muito tempo até que eles se acalmem aumentou em seis pontos percentuais.

Segundo o estudo, a bagunça em sala de aula tem efeito direto sobre o rendimento dos estudantes.

– Salas de aula e escolas com mais problemas de disciplina levam a menos aprendizado, já que os professores têm de gastar mais tempo criando um ambiente ordeiro antes que os ensinamentos possam começar –, afirma o relatório da OCDE.

– Estudantes que relatam que suas aulas são constantemente interrompidas têm performance pior do que estudantes que relatam que suas aulas têm menos interrupções.

A criação desse ambiente positivo em sala de aula tem a ver, segundo a OCDE, com uma “relação positiva entre alunos e professores”. Se os alunos sentem que são “levados a sério” por seus mestres, eles tendem a aprender mais e a ter uma conduta melhor, conclui o relatório.

No caso do Brasil, porém, a pesquisa mostra que os estudantes contam menos com seus professores do que há dez anos.

– Relações positivas entre alunos e professores não são limitadas a que os professores escutem (seus pupilos). Na Alemanha, por exemplo, a proporção de estudantes que relatou que os professores lhe dariam ajuda extra caso necessário cresceu de 59% em 2000 a 71% em 2009 –, afirma o relatório.

Já no Brasil essa proporção de estudantes caiu de 88% em 2000 para 78% em 2009.

http://correiodobrasil.com.br/sala-de-aula-brasileira-e-mais-indisciplinada-do-que-a-media/244660/

terça-feira, 24 de maio de 2011

Analfabetismo entre negros é o dobro

A taxa de analfabetismo das pessoas negras no Brasil, segue sendo maior que
o dobro do que ocorre entre as pessoas brancas, correspondendo a 71,6% do
6,8 milhões considerados analfabetos. Esse é um dos indicadores constantes
do Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil – 2009/2010.

Veja os outros principais indicadores

1. Afrodescendentes têm menor chance de acesso ao sistema de saúde. Taxa de
não cobertura ao sistema chega a quase 27% (brancos, no entorno de 14%)

2. Entre 1986 e 2008 a Taxa de Fecundidade Total (TFT) de mulheres negras
(48,8%) cai de forma mais acelerada que das mulheres brancas (36,7%), mas as
negras se sujeitam com mais intensidade às laqueaduras. Quase 30% em idade
fértil estão esterilizadas; brancas, 21,7%)

3. Mulheres negras têm menor acesso aos exames ginecológicos preventivos:
37,5% nunca fizeram exame de mamas (brancas, 22,9%), 40,9% nunca fizeram
mamografia (brancas, 26,4%), 15,5% jamais fizeram o Papanicolau (brancas,
13,2%)

4. Cresce o peso relativo de Aids junto à população negra, especialmente no
sexo feminino. Desde 2006, a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes das
negras é superior à das brancas. Letalidade da Aids é maior entre os negros

5. A população negra é mais acometida pela infecção e morte por sífilis. No
ano de 2008, do total de bebês infectados por sífilis congênita, 54,2% eram
negros.

6. Mães de crianças negras têm menor acesso ao exame pré-natal (somente
42,6% fizeram mais de sete exames; no caso das brancas, 71%) e recebem
atendimento menos cuidadoso no sistema de saúde, sugerindo a presença do
racismo institucional. Por exemplo, mães que fizeram exame ginecológico até
dois meses depois do parto: 46,0%, entre as gestantes brancas; 34,7%, entre
as gestantes pretas & pardas.

7. Mães de crianças negras têm maior probabilidade de falecer por
mortalidade materna. Morrem por dia cerca de 2,6 mulheres afrodescendentes
por causas maternas (mulheres brancas, 1,5 por dia)

8. Negros são os mais beneficiados pelo Programa Bolsa-Família. Uma em cada
quatro famílias chefiadas por afrodescendentes recebia o PBF (brancos,
9,8%). Peso deste Programa junto a esta população tem maior efeito no alívio
das situações de Insegurança Alimentar extremadas. Por exemplo, o PBF
permitiu a elevação do consumo de arroz por parte dos pretos & pardos em
68,5%, ao passo que entre os brancos o aumento foi de 31,5%. No caso do
feijão ocorreu elevação no consumo pelos pretos & pardos de 68,0%, frente a
32,0% no aumento do consumo entre os brancos

9. Crianças e adolescentes afrodescendentes entre 4 e 17 anos são mais
dependentes da merenda escolar para sobreviver: 60,6% são usuários deste
tipo de recurso (brancas: 48,1%)

10. População negra tem menor probabilidade de acesso à Previdência Social.
Em 2008, peso relativo dos trabalhadores pretos & pardos com acesso ao
sistema era dez pontos percentuais menor em relação aos brancos. No caso das
mulheres negras 20% das seguradas o eram na condição de Segurada Especial
(entre as mulheres brancas, 10%)

11. Estudo especial da Unicamp feito para o Relatório mostra que negros tem
menor esperança de sobrevida no conjunto das faixas de idade selecionadas.
Fator Previdenciário aprofunda desigualdades raciais

12. Relatório revela que a Constituição de 1988 não é cumprida quando se
trata do acesso da população negra ao sistema escolar. Descumprimento é
generalizado. Entre as crianças negras entre 11 e 14 anos nem metade
estudava na série esperada.

13. Crianças e adolescentes negros têm pior desempenho escolar e sofrem com
condições de ensino mais precárias. Taxa de crianças negras estudando em
escolas públicas é de 90% (brancas 80%). Mais de um terço das escolas
públicas frequentadas por alunos negros tem ou nenhuma ou pouca condição de
adequação de infraestrutura. Nem 20% têm condições de segurança boa ou muito
boa

14. Jovens afrodescendentes são mais expostos ao abandono escolar e à
frequência à escola em idade superior à desejada. Um em cada quatro jovens
negros que fizeram o ENEM tiveram relatos de ter sofrido discriminação
racial

15. Vinte anos depois da Constituição de 1988, a taxa de analfabetismo das
pessoas negras segue sendo mais que o dobro do que a das pessoas brancas.
6,8 milhões de pessoas em todo país que frequentam ou tinham frequentado a
escola são analfabetos, os pretos & pardos correspondem a 71,6% deste total.

16. Crianças afrodescendentes com idade inferior a 6 anos têm mais
dificuldade para ingressar nas creches e no sistema regular de ensino. 84,5%
das crianças negras de até 3 anos não frequentavam creches; 7,5% das
crianças negras de 6 anos estavam fora de qualquer tipo de escola e apenas
41,6% estavam no sistema de ensino seriado

17. Réus vencem causas nos tribunais com maior frequência diante dos casos
de denúncia de racismo. 66,9% nos Superiores Tribunais de Justiça. 58,5% nos
Tribunais Regionais do Trabalho de 2ª instância

18. O Relatório Anual das Desigualdades Raciais traz, ainda, dados inéditos
sobre desigualdades raciais contra pessoas afrodescendentes nos EUA, Cuba,
Equador, Colômbia, Uruguai e Comunidade Europeia.

Fonte: Afropess

Visite Rede Afrobrasileira Sociocultural em:
http://redeafro.ning.com/?xg_source= msg_mes_network

segunda-feira, 23 de maio de 2011

As lições (e os alertas) do novo Wembley para o Maracanã - Giancarlo Lepiani

Enquanto o Rio torrava dinheiro com reformas malfeitas, Londres derrubou seu estádio e ergueu a melhor arena do mundo - mas fora do prazo e do orçamento

O novo estádio de Wembley

Londres derrubou seu tradicional estádio e ergueu a melhor arena do mundo para a Olimpíada de 2012.

Na Inglaterra, o fato de o novo Wembley ter saído do prazo e do orçamento foi considerado uma vergonha nacional - mesmo com pouco dinheiro público na obra

Se no século passado o futebol virou quase uma religião, Maracanã e Wembley transformaram-se em templos sagrados. Dezenas de milhões de torcedores fizeram a peregrinação às suas arquibancadas - no Rio de Janeiro, durante sessenta anos; em Londres, por quase oitenta. Na entrada do novo século, foi preciso renovar as duas catedrais do esporte. E foi aí que os estádios mais famosos do planeta tomaram rumos diferentes. Os brasileiros decidiram reabilitar o Maracanã com uma série de profundas reformas - a mais radical delas, atualmente em curso, para deixá-lo pronto para a Copa do Mundo de 2014. Os ingleses, conhecidos pelo apego às tradições, surpreenderam: reduziram Wembley a pó e construíram uma novíssima arena multiuso no mesmo lugar onde ficava o antigo estádio. Concluído em 2007, o novo Wembley talvez seja o melhor estádio do mundo. E o projeto já serve de lição para o Maracanã do futuro - tanto nos acertos quanto nos erros.

A própria decisão de resolver o problema de uma só vez, evitando desperdiçar dinheiro com reformas parciais, pode ser vista como boa lição dos ingleses. Não foi fácil convencer a população de que era necessário colocar o velho estádio no chão. Uma vez reconstruído, porém, Wembley ficou pronto para mais algumas boas décadas de uso ininterrupto. É difícil imaginar que seja necessário fazer qualquer tipo de obra ali por pelo menos meio século. A construção é robusta o bastante para suportar a passagem do tempo, e o projeto é versátil o suficiente para permitir a adaptação do estádio a diversos tipos de uso. Todo o anel inferior, por exemplo, pode ter suas cadeiras retiradas, ampliando o espaço disponível para montar pistas de corrida e palcos para shows. O Rio não tem essa perspectiva, pelo menos por enquanto - o que permite prever que outras obras de adaptação podem ser necessárias no futuro (como para a Olimpíada de 2016).

Foi justamente essa falta de planejamento a longo prazo que transformou o Maracanã num buraco negro de dinheiro público nos últimos anos. Na primeira série de reformas, nos anos 1990, as mudanças foram apenas superficiais. Em 1999, pouco antes da primeira edição do Mundial de Clubes da Fifa, o estádio recebeu obras mais extensas, ao custo de 100 milhões de reais. Mas elas não foram suficientes para deixar o Maracanã para os Jogos Pan-Americanos de 2007, quando um investimento de mais de 200 milhões de reais fez a primeira grande transformação no estádio. Ou seja: quando o Rio de Janeiro anuncia gastos de pelo menos 966 milhões de reais nas obras para a Copa do Mundo de 2014, deve-se lembrar dos outros 300 milhões já consumidos num intervalo de pouco mais de dez anos. O valor total gasto no Rio, quase 1,3 bilhão de reais, ainda é inferior ao custo do novo Wembley, equivalente a 2,1 bilhão de reais. Londres tem o estádio mais caro do planeta.

Ainda assim, a comparação entre os investimentos nos dois estádios é alarmante. O preço de Wembley é final, e inclui gastos em infraestrutura nos arredores, compra definitiva do terreno, um fundo de contingência e a demolição completa do estádio antigo. Contando apenas a construção, os custos do projeto e juros, Wembley soma 517 milhões de libras - ou 1,37 bilhão de reais, valor similar, portanto, ao que está custando a interminável série de reformas no Maracanã. E isso sem contar a chance de novas revisões no orçamento - em caso de atrasos ou imprevistos nas obras, a despesa com o Maracanã pode dar um outro salto - e a enorme diferença nos custos de produção no Rio e em Londres, uma das cidades mais caras do mundo, onde desde os materiais até a força de trabalho consomem muito mais dinheiro. O melhor de tudo é que Wembley é uma parceria público-privada - e a verba pública corresponde a só uma pequena parcela do investimento.


O que copiar dos ingleses

O uso de pouca verba pública no projeto: foram só 41 milhões de libras de um total de 798 milhões de libras

A qualidade do projeto: sem luxos ou excessos, mas prático, confortável, durável e sustentável, como espera-se hoje

A diversificação das receitas: Wembley tem quatro restaurantes, estrutura para shows, uma loja, visitas turísticas...

O que não repetir no Rio

O atraso nas obras. Se estourar o prazo como Wembley, o Maracanã não poderá receber a Copa do Mundo de 2014

A destruição de todos os vestígios do antigo estádio - só sobraram dois painéis da Olimpíada de Londres, em 1948

A baixa frequência de uso: apenas jogos da seleção, finais de torneios e eventos especiais são realizados no estádio

Atraso e prejuízo - Mesmo a pontualidade britânica e o preço salgado da empreitada não garantiram a entrega de Wembley no prazo. Da demolição à inauguração, foram cinco anos, um a mais que o previsto. Primeiro, a destruição das arquibancadas demorou a engrenar. Depois, no decorrer das obras, alguns acidentes e uma reforma no sistema de esgoto sob o estádio atrapalharam o cumprimento do cronograma. Mas se a repetição desses problemas no Maracanã deve significar uma nova remessa de dinheiro público ao projeto, em Wembley o prejuízo ficou com a empreiteira australiana Brookfield Multiplex, responsável pela obra. Hoje, o estádio é de propriedade de uma subsidiária da Federação Inglesa, criada para cuidar exclusivamente da administração do estádio. No Maracanã, fala-se no uso do modelo de concessão, mas ninguém sabe ao certo como (ou por quem) o estádio será gerenciado depois que a Copa terminar, já no segundo semestre de 2014.

Por coincidência, será justamente em 2014 que o novo Wembley deverá começar a dar lucro - por enquanto, os juros dos empréstimos que bancaram a obra e a quitação dos valores investidos na construção superam as gordas receitas provenientes de jogos e shows realizados no estádio. No Maracanã, espera-se de que um clube ou empresa assuma a administração, arcando com os pesadíssimos custos de manutenção de um estádio tão grande. Mesmo assim será um negócio da China: quem ficar com o Maracanã ganhará a chance de explorar o estádio sem precisar se preocupar com a montanha de contas a pagar pela obra. Na Inglaterra, o fato de o novo Wembley ter saído do prazo e do orçamento foi considerado uma vergonha nacional, principalmente por tratar-se de um patrimônio importante do país, o palco de sua maior vitória no esporte, a Copa de 1966. É difícil dizer como os ingleses teriam reagido se o fiasco tivesse sido pago por dinheiro público.

Construído em 1950, o Maracanã tinha capacidade para 150.000 pessoas até os anos 1980. Com a instalação de cadeiras em todo o estádio, o limite de público oficial caiu para 82.000 pessoas. Recebeu a final da Copa de 1950.

Erguido em 1923, Wembley era originalmente conhecido como Empire Stadium. Recebia até 127.000 torcedores até os anos 1980. Com a instalação de assentos, caiu para 82.000 pessoas. Foi o palco da final da Copa de 1966.


http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/as-licoes-e-os-alertas-do-novo-wembley-para-o-maracana