quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os emergentes: quatro caminhos e um atalho - José Roberto Torero

Os emergentes: quatro caminhos e um atalho - José Roberto Torero

No futebol também temos emergentes. E eles formam o TOSC. No caso, os clubes são Tupi, Oeste, Santa Cruz e Cuiabá. Os quatro conseguiram o acesso para a Série C do Brasileiro. Eles são muito diferentes em algumas coisas e parecidos em uma.


Você certamente já ouviu falar no BRICS, um acrônimo que identifica o grupo formado por cinco países emergentes: Brasil, Rússia Índia, China e África do Sul.

Pois no futebol também temos emergentes. E eles formam o TOSC. No caso, os clubes são Tupi, Oeste, Santa Cruz e Cuiabá.

Os quatro conseguiram o acesso para a Série C do Brasileiro. Eles são muito diferentes em algumas coisas e parecidos em uma.

O Cuiabá é um jovem clube empresa, criado em 2001 pelo ex-jogador Gaúcho. Deu uma parada em 2006 e voltou às atividades em 2009 sob nova direção. Naquele ano ganhou a segunda divisão do campeonato mato-grossense e em 2011 foi campeão da primeira.

O Oeste é de Itápolis e já tem vetustos 91 anos. Em 1997 estava na quinta divisão do futebol paulista. Mas veio subindo e teve em 2011 o melhor momento de sua biografia, com a conquista do Campeonato Paulista do Interior e o acesso à Série C.

O Santa Cruz sofreu a mais rápida queda da história do futebol brasileiro. Foram três rebaixamentos seguidos. Em 2006 jogou a Série A, disputou a B em 2007, já estava na C em 2008 e foi parar na D em 2009. Mas este ano, dirigido pelo competente técnico Zé Teodoro e empurrado por sua torcida (por sua vez estimulada com o programa “todos com a nota”, que troca notas fiscais por ingressos), ganhou o Pernambucano e foi vice-campeão da Série D.

Mas é o Tupi é quem puxa a fila do TOSC. Neste domingo, o clube mineiro conquistou o Campeonato Brasileiro da Série D ao vencer o Santa Cruz em pleno Arruda, fazendo lágrimas rolarem dos 120 mil olhos presentes.

O time é uma mescla de jovens promissores e atletas experientes que ainda têm o que mostrar. E três destes veteranos são os ídolos do time:

- Luciano Ratinho, 32 anos, surgiu no Botafogo de Ribeirão Preto e depois virou um cigano, passando por Corinthians, Grêmio, Paysandu, Sertãozinho, Monte Azul, Coreia do Sul, China e Portugal até chegar ao Tupi.

- O veterano Ademílson, centroavante de 37 anos, teve sua melhor fase no Botafogo do Rio, em 2002. Não é muito habilidoso, mas é um touro. Seu passaporte tem carimbos do México e da Bélgica. Chegou ao Tupi em 2007 e tem sido tão importante para o clube que ganhou o título de cidadão honorário de Juiz de Fora.

- E o xodó da torcida é Allan Taxista, um jogador que começou a jogar profissionalmente só em 2006, aos 27 anos. Antes, como diz o nome, dirigia um táxi na cidade. Mas se destacava tanto nos jogos de várzea que acabou chamado para o time profissional.

Para dirigir a equipe, o escolhido foi Ricardo Drubscky, professor de Educação Física e autor do livro “O Universo Tático do Futebol – Escola Brasileira”. Em sua carreira trabalhou principalmente com divisões de base, como no Cruzeiro-MG e no Atlético-PR, o que deve ter ajudado com os novatos do time de Juiz de Fora.

Outro fator que contribuiu para o sucesso do Tupi foram os patrocinadores. Há alguns mais portentosos, como o banco BMG (que patrocina vários times da primeira divisão nacional) e a MRS, uma grande operadora ferroviária de cargas, além de outros menores, como um supermercado da cidade, uma academia de ginástica e uma concessionária. E, é claro, há uma ajuda da prefeitura, o que sempre me parece errado, pois prefeituras têm que gastar é com necessidades básicas, como educação e saúde.

De qualquer forma, o dinheiro do patrocínio chegou um pouco tarde. Em 2009 o clube vendeu praticamente a metade da área de sua sede social a fim de sanar dívidas. E em fevereiro deste ano teve a água cortada por falta de pagamento.

Pois bem, eu vos pergunto: O que há em comum entre os quatro clubes do TOSC?

E eu vos respondo: Uma melhora de gerenciamento.

Eles partem de princípios diferentes. O Cuiabá é um time-empresa, enquanto o Tupi é apoiado pela prefeitura. O Oeste tem um investidor como dirigente, enquanto o Santa Cruz passou a ser comandado por políticos (o atual presidente é vereador e o anterior é o atual Ministro da Integração Nacional).

Mas os quatro sofreram uma mudança de gestão que os fez dar um salto de qualidade.

Duas ou três boas gestões melhoram um bocado a vida de um clube.

Talvez seja o mesmo que ocorreu no Brasil. Na última década e meia tivemos um pouco mais de competência e subimos de divisão.

Mas é bom lembrar que ainda estamos na Série C.



José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5320&boletim_id=1060&componente_id=16944

Nenhum comentário:

Postar um comentário