domingo, 25 de julho de 2010

Murais produzidos pelas turmas do 9ºano/CEDC e apresentados juntos com os "trabalhos"







Muito além do Soccer City - Rafael Alvez

A primeira certeza que o apito final do dia 11 de julho deixou foi a de que a Espanha mereceu o título que a colocou no seleto grupo dos oito países campeões mundiais de futebol. A segunda certeza foi a de que a África é capaz. Todos aqueles que, antes do Mundial, temiam pelo pior, tiveram de botar o rabo entre as pernas.

Quando eu cheguei ao país da Copa, no dia 2 de junho, tinha como referência alguns relatos evasivos de amigos que já haviam vivido ou visitado o país, mas também trazia na memória as dezenas de artigos lidos alertando quanto aos possíveis problemas de transporte e, principalmente, segurança. Às vésperas da viagem, empresas que prestaram serviços durante a Copa e associações de jornalistas enviavam e-mails indicando que eu não deveria pegar um taxi, pisar a rua sozinho nem falar com grupos de homens negros. Semanas antes do Mundial, pipocavam notícias sobre extravio de bagagens, assaltos e agressões a estrangeiros. Confesso que embarquei bastante ressabiado.

Minhas preocupações começaram a diluir-se no meu primeiro final de semana, quando fui conhecer Soweto. Fiz os programas de turista, mas também almocei num bandeijão, caminhei pelas ruas e entrei em lugares dos locais, como um bar e um supermercado. Pode ter sido apenas uma impressão é claro, mas foi boa. Não posso negar que ao declarar-me brasileiro via os sorrisos do pessoal de lá se abrirem com mais facilidade, mas o fato é que a experiência neste histórico e sofrido distrito me ajudou a relaxar um pouco.

Quarenta e cinco dias, seis cidades e vinte jogos depois, a bordo do avião de volta para casa, conclui que houve uma situação de átipica tranquilidade para que tudo corresse bem durante a Copa. Mas também volto seguro de que a África do Sul é um país fantástico, que precisa de mais atenção do mundo e de muito mais cuidado de seus administradores. A principal queixa de quem vive lá é a corrupção. Pelo que eu ouvi, parece ser igual ou ainda pior do que a gente vê no Brasil.

A exemplo de muitos brasileiros e estrangeiros com que conversei a respeito, vi um país-sede com excelente infraestrutura aeroviária e rodoviária -a despeito da inexistência de transporte público, principalmente em Joanesburgo -; cidades limpas, bonitas e desenvolvidas, caso da Cidade do Cabo; estádios fenomenais, como o de Durban; e, o mais marcante de tudo: um povo extremamente hospitaleiro e orgulhoso de receber a Copa do Mundo. Mesmo com a queda dos Bafana Bafana ainda na primeira fase, os africanos continuaram a soprar suas vuvuzelas em todos os jogos e receber gente do mundo inteiro com carinho e generosidade. Tenham em conta que a Copa traz pessoas de todos os países, não só dos que a disputam. Vi grupos de croatas, húngaros, venezuelanos, peruanos, palestinos, russos, chineses e angolanos, só para citar alguns.

A segurança foi evidentemente reforçada, mas a falta de ocorrências graves deve-se principalmente ao empenho de todos que queriam que cada estrangeiro voltasse para casa com uma boa impressão do país. Aparentemente conseguiram. Muito provavelmente os índices de criminalidade no país nos últimos 60 dias foram os menores desde que começaram a ser medidos.

Entretanto é preocupante constatar que os esquemas montados para garantir este período de estabilidade já estão sendo desmontados. Muitos agentes de segurança serão dispensados, outros tantos vão sair de férias e o temor é que a corrupção, a letargia e a ausência da polícia local volte a níveis 'normais' a partir de agosto. Hoje o sul-africano está feliz e orgulhoso de ter conseguido receber o maior evento do mundo de uma maneira muito melhor do que todos esperavam. Amanhã vai descobrir a que custo isso tudo aconteceu e discutir melhor os legados resultantes de tanto esforço.

Quando pergunta-se a um local sobre o legado da Copa, é muito difícil ter como resposta 'o estádio X', 'o aeroporto Y' ou 'a rodovia Z'. Basicamente são duas as respostas padrão: 'descobrimos que a África do Sul tem capacidade para receber o mundo' e 'fechamos um pouco mais as feridas causadas pelo Apartheid'. Pela primeira impressão, entendo que eles estão realmente surpresos por sentirem-se tão capazes, já que estamos falando de uma democracia de apenas 16 anos que não está acostumada a receber eventos tão grandes e tantos turistas. Já sobre a integração entre negros e brancos, pode-se dizer que se trata de uma meta ambiociosa que foi atingida. A sensação é de que brancos e negros se aproximaram um pouquinho mais por causa da Copa. Nunca o país tinha recebido tantos estrangeiros de uma só vez (calcula-se que foram cerca de 250.000) e isso fez com que as pessoas se sentissem mais sul-africanas e menos brancas ou negras.

Pensando no nosso desafio de receber a Copa, acredito que, mais importante ainda do que garantir que haja infraestrutura, precisamos nos preparar para entregarmos aos visitantes (que devem vir em maior número) o que de melhor temos como povo. Nos próximos quatro anos você, leitor, vai ser bombardeado com denúncias de superfaturamento de obras, uso irregular de dinheiro público, decisões políticas em detrimento de decisões sensatas, abuso de poder, mamatas em geral conquistadas por gente envolvida na organização.

Mas o fato é que tudo vai ficar pronto a tempo e, em 2014, vamos ter milhares de gringos em todas as 12 cidades-sede tomando cervejinha em copo americano, sambando com o dedinho em riste e assistindo às partidas da Copa no maior conforto. Quem sabe como o Brasil funciona também sabe que o sucesso da Copa virá a um altíssimo custo moral e financeiro. Para amenizar essa revolta, ao meu ver inevitável, temos que nos preparar para receber o mundo da melhor maneira possível, com hospitalidade e mandando bem naquilo em que somos realmente craques: festa. Na união de todos para fazer a melhor festa da história, podemos nos aproximar como povo, amenizar as diferenças, e termos um legado muito mais valioso do que armações de concreto e cimento.


http://g.br.esportes.yahoo.com/futebol/copa/blog/daredacao/post/Muito-al-m-do-Soccer-City?urn=fbintl,255817

Os corvos olímpicos - Emir Sader

Tem gente que não gosta do Brasil. “O problema do Brasil é que já foi descoberto por estrangeiros”, dizia um parlamentar da ditadura, pilhado pelo Febeapá do Stanislaw Ponte Preta. O avô de um coordenador da campanha do candidato tucano-demista, Juracy Magalhães, primeiro Ministro de Relações Exteriores da ditadura, disse: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Collor gostava de denegrir a indústria brasileira, FHC de dizer que os brasileiros são “preguiçosos”.

No dia em que se decidia a sede das Olimpíadas de 2016, nenhum jornal brasileiro dava destaque ao tema, certamente já tinham seus editoriais prontos para alegar que o governo tinha gasto muito dinheiro para fazer dossiês, promover viagens e que não tinha sido parada para a Chicago de Obama ou para Madri ou Tóquio. No dia seguinte, tinham cadernos especiais dizendo que o Brasil tinha ganho – sem destaques para o desempenho do Lula – e que eram a favor desde o começo.

Tendo perdido essa parada, os corvos não cansam de abastecer os inimigos externos do Brasil sobre o Campeonato Mundial de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Se somam cotidianamente à campanha das entidades internacionais, cujos burocratas tem a função de atazanar os países da periferia do sistema de que seriam incapazes de promover eventos globais como esses. Fizeram isso o tempo todo com a Grécia e as Olimpíadas ali foram um sucesso. Criaram um clima de que o Campeonato Mundial de Futebol na África do Sul seria um desastre e tudo correu muito bem. Agora se volta, como corvos, para o Brasil. Serão 4 ou 6 anos de atazanamento. Depois de nos livrar-nos das missões do FMI, agora teremos os burocratas da FIFA e do COI “controlando” as obras.

Contam com a imprensa quinta coluna brasileira e suas denúncias preventivas sobre má utilização dos recursos, corrupção, atrasos, elefantes brancos que seriam construídos e não utilizados e até mesmo sua repentina preocupação com a miséria brasileira, que deveria primeiro ser superada, para só depois podermos organizar atividades dessa importância. A Federação Inglesa de Futebol já afirmou que está disponível para organizar o Campeonato de 2014, caso confirmassem as previsões agoureiras dos corvos de plantão por aqui.

Incomoda aos corvos, a auto-estima brasileira, como incomodava a alegria dos africanos durante a Copa. Incomoda que um presidente nordestino, torcedor de futebol, tenha passado pra trás seu ídolo querido, o presidente dos EUA e sua elegante senhora, que chegaram no ultimo momento ao local da decisão das Olimpíadas, acreditando que com seu charme e sua prepotência, levariam para sua cidade os Jogos.

Perderam eles lá e os corvos aqui. Perderão nas eleições deste ano e o Brasil organizará, como disse Lula, os jogos mais inesquecíveis da história do esporte, com um povo alegre e solidário.

20/07/2010
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=507

Crítica do ex-jogador Tostão às medidas do presidente Lula

Presidente Lula define prêmio para jogadores que venceram a Copa do Mundo; valor pode chegar a 465 mil reais

O presidente Lula e a Associação dos Campeões Mundiais do Brasil negociam aposentadoria e indenização para os atletas da seleção que ganharam Copas do Mundo. O benefício valerá inicialmente aos ex-jogadores de 1958 e se estenderá, posteriormente, a quem atuou nos Mundiais de 1962, 1970, 1994 e 2002. Reunião na Casa Civil discutiu as cifras a serem pagas aos campeões. Inicialmente, o valor negociado para cada um gira em torno de mil salários mínimos, no caso da indenização (465 mil reais), e de dez salários mínimos (4.650 reais), o teto da Previdência, para a aposentadoria. A expectativa é que o anúncio da nova medida seja feito pelo governo na próxima semana.
O texto abaixo foi escrito por TOSTÃO, ex-jogador de futebol, comentarista esportivo, escritor e médico, e foi publicado em vários jornais do Brasil:

Tostão escreveu:-
Na semana passada, ao chegar de férias, soube, sem ainda saber detalhes, que o governo federal vai premiar, com um pouco mais de R$ 400 mil, cada um dos campeões do mundo, pelo Brasil, em todas as Copas.

Não há razão para isso. Podem tirar meu nome da lista, mesmo sabendo que preciso trabalhar durante anos para ganhar essa quantia.

O governo não pode distribuir dinheiro público. Se fosse assim, os campeões de outros esportes teriam o mesmo direito. E os atletas que não foram campeões do mundo, mas que lutaram da mesma forma? Além disso, todos os campeões foram premiados pelos títulos. Após a Copa de 1970, recebemos um bom dinheiro, de acordo com os valores de referência da época..

O que precisa ser feito pelo governo, CBF e clubes por onde atuaram esses atletas é ajudar os que passam por grandes dificuldades, além de criar e aprimorar leis de proteção aos jogadores e suas famílias, como pensões e aposentadorias.

É necessário ainda preparar os atletas em atividade para o futuro, para terem condições técnicas e emocionais de exercer outras atividades.

A vida é curta, e a dos atletas, mais ainda.

Alguns vão lembrar e criticar que recebi, junto com os campeões de 1970, um carro Fusca da prefeitura de São Paulo. Na época, o prefeito era Paulo Maluf. Se tivesse a consciência que tenho hoje, não aceitaria.

Tinha 23 anos, estava eufórico e achava que era uma grande homenagem.

Ainda bem que a justiça obrigou o prefeito a devolver aos cofres públicos, com o próprio dinheiro, o valor para a compra dos carros.

Não foi o único erro que cometi na vida. Sou apenas um cidadão que tenta ser justo e correto. É minha obrigação.

Tostão

VAMOS FAZER CIRCULAR ESTA, PARA DIVULGAR MAIS UMA ABERRAÇÃO DO NOSSO PRESIDENTE COM O NOSSO DINHEIRO!

Muito além do Soccer City - Rafael Alvez

A primeira certeza que o apito final do dia 11 de julho deixou foi a de que a Espanha mereceu o título que a colocou no seleto grupo dos oito países campeões mundiais de futebol. A segunda certeza foi a de que a África é capaz. Todos aqueles que, antes do Mundial, temiam pelo pior, tiveram de botar o rabo entre as pernas.

Quando eu cheguei ao país da Copa, no dia 2 de junho, tinha como referência alguns relatos evasivos de amigos que já haviam vivido ou visitado o país, mas também trazia na memória as dezenas de artigos lidos alertando quanto aos possíveis problemas de transporte e, principalmente, segurança. Às vésperas da viagem, empresas que prestaram serviços durante a Copa e associações de jornalistas enviavam e-mails indicando que eu não deveria pegar um taxi, pisar a rua sozinho nem falar com grupos de homens negros. Semanas antes do Mundial, pipocavam notícias sobre extravio de bagagens, assaltos e agressões a estrangeiros. Confesso que embarquei bastante ressabiado.

Minhas preocupações começaram a diluir-se no meu primeiro final de semana, quando fui conhecer Soweto. Fiz os programas de turista, mas também almocei num bandeijão, caminhei pelas ruas e entrei em lugares dos locais, como um bar e um supermercado. Pode ter sido apenas uma impressão é claro, mas foi boa. Não posso negar que ao declarar-me brasileiro via os sorrisos do pessoal de lá se abrirem com mais facilidade, mas o fato é que a experiência neste histórico e sofrido distrito me ajudou a relaxar um pouco.

Quarenta e cinco dias, seis cidades e vinte jogos depois, a bordo do avião de volta para casa, conclui que houve uma situação de átipica tranquilidade para que tudo corresse bem durante a Copa. Mas também volto seguro de que a África do Sul é um país fantástico, que precisa de mais atenção do mundo e de muito mais cuidado de seus administradores. A principal queixa de quem vive lá é a corrupção. Pelo que eu ouvi, parece ser igual ou ainda pior do que a gente vê no Brasil.

A exemplo de muitos brasileiros e estrangeiros com que conversei a respeito, vi um país-sede com excelente infraestrutura aeroviária e rodoviária -a despeito da inexistência de transporte público, principalmente em Joanesburgo -; cidades limpas, bonitas e desenvolvidas, caso da Cidade do Cabo; estádios fenomenais, como o de Durban; e, o mais marcante de tudo: um povo extremamente hospitaleiro e orgulhoso de receber a Copa do Mundo. Mesmo com a queda dos Bafana Bafana ainda na primeira fase, os africanos continuaram a soprar suas vuvuzelas em todos os jogos e receber gente do mundo inteiro com carinho e generosidade. Tenham em conta que a Copa traz pessoas de todos os países, não só dos que a disputam. Vi grupos de croatas, húngaros, venezuelanos, peruanos, palestinos, russos, chineses e angolanos, só para citar alguns.

A segurança foi evidentemente reforçada, mas a falta de ocorrências graves deve-se principalmente ao empenho de todos que queriam que cada estrangeiro voltasse para casa com uma boa impressão do país. Aparentemente conseguiram. Muito provavelmente os índices de criminalidade no país nos últimos 60 dias foram os menores desde que começaram a ser medidos.

Entretanto é preocupante constatar que os esquemas montados para garantir este período de estabilidade já estão sendo desmontados. Muitos agentes de segurança serão dispensados, outros tantos vão sair de férias e o temor é que a corrupção, a letargia e a ausência da polícia local volte a níveis 'normais' a partir de agosto. Hoje o sul-africano está feliz e orgulhoso de ter conseguido receber o maior evento do mundo de uma maneira muito melhor do que todos esperavam. Amanhã vai descobrir a que custo isso tudo aconteceu e discutir melhor os legados resultantes de tanto esforço.

Quando pergunta-se a um local sobre o legado da Copa, é muito difícil ter como resposta 'o estádio X', 'o aeroporto Y' ou 'a rodovia Z'. Basicamente são duas as respostas padrão: 'descobrimos que a África do Sul tem capacidade para receber o mundo' e 'fechamos um pouco mais as feridas causadas pelo Apartheid'. Pela primeira impressão, entendo que eles estão realmente surpresos por sentirem-se tão capazes, já que estamos falando de uma democracia de apenas 16 anos que não está acostumada a receber eventos tão grandes e tantos turistas. Já sobre a integração entre negros e brancos, pode-se dizer que se trata de uma meta ambiociosa que foi atingida. A sensação é de que brancos e negros se aproximaram um pouquinho mais por causa da Copa. Nunca o país tinha recebido tantos estrangeiros de uma só vez (calcula-se que foram cerca de 250.000) e isso fez com que as pessoas se sentissem mais sul-africanas e menos brancas ou negras.

Pensando no nosso desafio de receber a Copa, acredito que, mais importante ainda do que garantir que haja infraestrutura, precisamos nos preparar para entregarmos aos visitantes (que devem vir em maior número) o que de melhor temos como povo. Nos próximos quatro anos você, leitor, vai ser bombardeado com denúncias de superfaturamento de obras, uso irregular de dinheiro público, decisões políticas em detrimento de decisões sensatas, abuso de poder, mamatas em geral conquistadas por gente envolvida na organização.

Mas o fato é que tudo vai ficar pronto a tempo e, em 2014, vamos ter milhares de gringos em todas as 12 cidades-sede tomando cervejinha em copo americano, sambando com o dedinho em riste e assistindo às partidas da Copa no maior conforto. Quem sabe como o Brasil funciona também sabe que o sucesso da Copa virá a um altíssimo custo moral e financeiro. Para amenizar essa revolta, ao meu ver inevitável, temos que nos preparar para receber o mundo da melhor maneira possível, com hospitalidade e mandando bem naquilo em que somos realmente craques: festa. Na união de todos para fazer a melhor festa da história, podemos nos aproximar como povo, amenizar as diferenças, e termos um legado muito mais valioso do que armações de concreto e cimento.


http://g.br.esportes.yahoo.com/futebol/copa/blog/daredacao/post/Muito-al-m-do-Soccer-City?urn=fbintl,255817

Copa: futebol, racismo e política - Beto Almeida

Quando Lúcio, o aplicado capitão da seleção canarinho, leu mensagem condenando o racismo antes daquela fatídica partida contra a Holanda, talvez não pudesse medir o grande alcance de seu gesto, que nos obriga a recuperar um fase da história recente. Condenar ali mesmo o racismo era imperioso pois era respeitar aquele povo e também alertar para as novas expressões racistas que estão se projetando em outros países, inclusive países que estavam ali disputando o certame. O artigo é de Beto Almeida.(*)


Vai chegando ao final a primeira Copa do Mundo de Futebol realizada na África. Talvez a frustração da torcida brasileira, combinada com uma destrambelhada cobertura midiática, - que exortou sentimentos racistas contra paraguaios e de hostilidade gratuita contra argentinos - não tenha permitido compreender que o simples fato da Copa ter sido na África do Sul é uma grande vitória contra o racismo internacional e contra as grandes potências capitalistas que tentaram boicotar ou desmoralizar os africanos. Mas, sobretudo, é a vitória de um país e de um povo que sequer participou da Copa. Cuba, que ao derrotar o exército racista sul-africano em Cuito Cuanavale, Angola, para onde enviou 400 mil soldados, deu o passo fundamental para a libertação da África do Sul. “A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do apartheid. E isto devemos a Cuba”, disse Mandela, após ser liberado de 27 anos de prisão. A torcida mundial deveria ser amplamente informada destas verdades.

Quando Lúcio, o aplicado capitão da seleção canarinho, leu mensagem condenando o racismo antes daquela fatídica partida contra a Holanda, talvez não pudesse medir o grande alcance de seu gesto, que nos obriga a recuperar um fase da história recente. Condenar ali mesmo o racismo era imperioso pois era respeitar aquele povo e também alertar para as novas expressões racistas que estão se projetando em outros países, inclusive países que estavam ali disputando o certame.

Sob o apartheid não haveria Copa na África do Sul

O certo é que a Copa do Mundo só estava se realizando ali em território sul-africano porque milhares de seres humanos deram suas vidas contra o animalesco regime do apartheid, que com o apoio de países como Estados Unidos e Inglaterra, principalmente, massacrou de maneira cruel a pátria de Mandela. A África do Sul racista, imperialista, ditatorial, que foi recebendo sanções internacionais quanto mais crescia a resistência popular em seu interior e mundo a fora, levando-a a receber algumas sanções internacionais, jamais poderia ser a sede de uma Copa do Mundo se estivesse sob o apartheid.

Queremos, portanto, estender a oração do capitão Lúcio para fazer justiça a um povo que não estava disputando a Copa, mas que foi fundamental para que a Copa ali se realizasse para alegria e orgulho da nova África do Sul. A declaração de Lúcio tem raízes na história da solidariedade revolucionária que Cuba ofereceu á África, a começar pelo envio de médicos para a apoiar a Revolução na Argélia, onde esteve trabalhando o próprio Che Guevara.

Enquanto Mandela ainda estava preso, Cuba já estava apoiando os vários processos de libertação em território africano. Libertação que veio a receber um grande impulso a partir da Revolução dos Cravos, em Portugal, liderada por jovens capitães, muitos deles egressos das então colônias portuguesas em território africano, onde aprenderam muitas lições de dignidade por parte daqueles povos a quem deveriam esmagar. Houve capitães que mais tarde relataram que em território angolano se convenceram que a razão da história estava com os guerrilheiros angolanos. Por isso mesmo, chegavam a organizar certas incursões pelas selvas, onde deixavam deliberadamente suas armas para serem recolhidas pelos soldados do Movimento Popular para a Libertação de Angola, simulando que haviam sido desarmados, quando estavam a dizer, com aquele gesto, que apoiavam a causa da libertação africana.

Estes gestos dos militares portugueses floresceram em Cravos Vermelhos pelas ruas de Lisboa, após soarem os primeiros acordes da canção “Grândola, Vila Morena”. A razão histórica venceu! Não sei se o capitão Lúcio, na sua juventude de uma vida dedicada ao futebol, teve oportunidade de informar-se sobre isto antes de ler aquela importante declaração contra o racismo, num gesto de grandeza da nossa seleção.

Cuito Cuanavale: começo do fim do apartheid

Quando Cuba atendeu ao chamado do presidente angolano, o médico, poeta e guerrilheiro Agostinho Neto, para que enviasse ajuda militar para assegurar a libertação de Angola, conquistada em 11 de novembro de 1975, com pronto reconhecimento de Brasil e óbvia contrariedade dos EUA, abria-se uma nova página na história da África, mas também da solidariedade internacional.

A hipocrisia e a malignidade intrínseca da mídia comercial não deu a conhecer aos milhões de torcedores do mundo inteiro de olhos magnetizados no televisor uma linha sequer desta luta heróica para derrotar o apartheid e permitir, afinal, não apenas a libertação de Angola e da Namília, mas também de Nelson Mandela e a erradicação total do regime racista, derrotado no campo militar em Cuito Cuanavale e, mais tarde, novamente derrotado pelos votos que elegeram Mandela seu primeiro presidente da república, o primeiro com legitimidade!

Não tínhamos nenhuma dúvida da bravura e da grandeza do gesto do povo cubano ao fazer a travessia do Atlântico no sentido contrário àquela rota feita pelos navios negreiros que vieram para o Brasil e também para o Caribe, nos unindo para sempre na dor, no sangue, na música, na cultura e também no compromisso de saldar esta imensa dívida que toda a humanidade tem para com os povos africanos. Porém, Cuba decidiu pagar antes de todos e para lá enviou 400 mil homens e mulheres, negros e brancos, inclusive a brancura da filha de Che Guevara, que também já havia lutado em Cabinda, enclave angolano próximo ao Congo. O médico brasileiro Davi Lerer estava exilado em Angola naquele período, ensandecido de solidariedade e de compromisso com a libertação angolana. Foi quando começou a perceber que alguns dos feridos de guerra por ele tratados, falavam espanhol. Era fruto da Rota do Atlântico feita no sentido contrário, no sentido da libertação. Todos devemos à Mama África. Mas, só Cuba teve a audácia de pagar esta dívida com armas nas mãos!

Armas nucleares contra Cuba

A nobreza do gesto provocou o instinto assassino das chamadas democracias imperialistas. Acaba de ser divulgado que Israel ofereceu armas nucleares à África do Sul para serem lançadas sobre as tropas cubanas no sul de Angola. Com o apoio dos aviões Migs de fabricação soviética, as tropas do exército racista da África do Sul foram enxotadas de território angolano, postas para correr também do território da Namíbia, cujas forças revolucionárias também formavam aquele formidável exército de libertação. Chegou-se a discutir nas forças de libertação a ida até Pretória!. Por isto os imperialistas cogitaram o uso de armas nucleares contra o exército cubano, pois o seu exemplo de internacionalismo proletário era por demais poderoso à humanidade! Tudo isto resultou no agravamento da crise do regime de Botha, na libertação de Mandela, no fim do apartheid, nas eleições diretas, e, por fim, na conquista da realização da Copa do Mundo, pela primeira vez, em território africano!. Vitória da humanidade, após tantas vitórias que abrilhantam a linda história de justiça da humanidade, unindo a Revolução Cubana à Revolução dos Cravos de Portugal! As armas nucleares na foram utilizadas daquela vez. Não se atreveram! Não se sabe se as utilizarão agora contra o Irã.

Racismo nos países imperialistas

A condenação ao racismo lida pelo nosso capitão, é atualíssima. Tem endereço. Depois da desclassificação das seleções dos EUA e da França, vimos pipocar novamente manifestações de racismo contra negros, imigrantes, árabes, hispânicos, sobretudo nestes dois países. Há os que considerem a França uma democracia exemplar, mas não querem prestar atenção nas declarações de Zidane, o craque da seleção francesa de origem argelina. Contrariando a tese dos acadêmicos pouco atentos, ele questiona a democracia francesa: “Eu posso ser campeão do mundo com a camisa da França, orgulho nacional, mas não posso eleger o presidente?” Agora o deselegante técnico da seleção francesa atira a culpa pelo fracasso aos jogadores de origem africana, à cultura dos bairros de periferia das grandes cidades francesas. Nenhum questionamento ao sistema político francês que é tão duramente combatido pelos jovens das periferias pobres na França, sem perspectiva de estudo ou de emprego!

Nos EUA não foi muito diferente. Buscam-se justificativas para a desclassificação, mas, as vozes racistas voltam a falar alto, sobretudo contra hispânicos, asiáticos e afro-descendentes. A gigantesca contradição política vivida pelos Eua só tende a se agravar, certamente de forma dramática, já que o presidente Obama tem sido pressionado pelo complexo militar-industrial a reforçar sua presença armada mundo afora. Já mandou mais 30 mil soldados para o Afeganistão, continua a ordenar bombardeios de povoados matando crianças e destruindo alvos civis naquele país empobrecido. Esqueceu-se das torturas de Guantânamo? Manda uma frota nuclear para as proximidades da costa do Irã. Multiplica o orçamento do Pentágono. O prêmio Nobel da Paz vai se revelando o Prêmio Nobel da Guerra e continua colecionando cadáveres e mais cadáveres!

Na linha inversa, o Brasil aprova o seu Estatuto da Igualdade Racial e cria a Universidade Lusoafricana Brasileira (Unilab), na cidade cearense de Redenção, a primeira em extinguir o escravagismo no Brasil. Lá teremos professores e studantes africanos, estudando gratuitamente. É a forma brasileira de também começar a apagar a enorme dívida que temos para com os povos africanos, como assinalou Lula. É verdade que estes dois gestos concretos nos chegam com 112 anos de atraso. Há muito ainda para caminhar, mas a linha é a de continuar a abrir espaços para que os negros sigam aumentando sua presença qualificada nas universidades, para que os Territórios dos Quilombos sejam definitivamente escriturados em nome dos remanescentes dos escravos, que as políticas públicas de habitação contemplem as necessidades da população negra, ainda alvo de desumana discriminação no mercado de trabalho, recebendo ainda os piores salários, ocupando as piores funções, e, ainda por cima, confinada à invisibilidade nos meios de comunicação, salvo as honrosas exceções da comunicação das tvs públicas e comunitárias, que registram alguma justiça racial televisiva.

Rivalidades exageradas são contra a cooperação

O mau exemplo vem exatamente das tvs comerciais. Ofendem gratuitamente ao povo paraguaio ou insuflam uma exagerada hostilidade contra argentinos, certamente, fazendo um tipo de jornalismo de desintegração, exatamente quando nós latino-americanos estamos a organizar e por em prática, por meio de vários governos, políticas públicas de integração econômica, energética, comercial, cultural educacional. Seguindo as orientações dos que querem impedir que sejamos solidários e cooperativos entre nós - por acaso, as mesmas nações imperiais que antes apoiaram o apartheid e recentemente tentaram boicotar a realização da Copa na África - cria-se um clima para uma rivalidade exacerbada, agressiva, verdadeira hostilidade, por exemplo contra argentinos e paraguaios.

Basta recordar o comportamento do capitão da seleção uruguaia, Obdúlio Varela, que ,em 1950, fez o Brasil todo chorar quando derrotarem a equipe canarinha em pleno Maracanã. Varela sentiu tanta segurança e confiança no caráter amistoso do povo brasileiro que foi comemorar a vitória uruguaia com brasileiros na noite carioca, sendo tratado com fraternidade e nobreza olímpicas pelos nosso povo. Diante de comportamento tão elevado dos brasileiros, certos narradorestelevisivos de hoje, apesar de frequência em certames internacionais, revelam-se verdadeiramente torpes e ineptos para alcançarem um padrão de jornalismo desportivo minimamente olímpico, tal como a Grécia Antiga - não a atual induzida á falência pela oligarquia financeira - legou à humanidade. Querem animalizar, embrutecer, despertar baixos instintos, estando portanto, em choque frontal com os princípios e valores que a Constituição pauta para os meios de comunicação, exigindo que sejam educativos, respeitosos aos mais nobres valores humanos e destinados à elevação cultural da sociedade.

As nações imperiais sabem perfeitamente da utilidade destas rivalidades fomentadas, muitas vezes artificialmente. Sobretudo contra povos que possuem grande potencial de cooperação entre si, como é o caso de Brasil e Argentina, cuja integração das bases produtivas poderia acelerar e encurtar sobremaneira os prazos históricos para a integração da América Latina. Por isto fazem o jornalismo da desintegração. Pela mesma razão, são incapazes, como meios de comunicação, de informar sobre o papel que Cuba desempenhou na história recente de libertação da África.

Jornalismo de integração

As nossas tvs públicas precisam fazer o contraponto. A diversificação e a pluralidade informativas, neste episódio, seriam extremamente válidas. Sobretudo se permitisse ao povo brasileiro conhecer quanta história existe por detrás da declaração contra o racismo que o capitão Lúcio fez naquele estádio repleto de sul-africanos libertos do regime do apartheid. E também conhecer quanta manipulação se faz do esporte, em nome de causas mesquinhas e anti-civilizatórias, como as que pretendem reviver o racismo e o impedimento ideológico da cooperação e da solidariedade entre os povos que tem um destino comum. O da unidade, da cooperação e da solidariedade.

(*) Beto Almeida é diretor de Telesur

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16792&boletim_id=727&componente_id=12204

Final da Copa baterá recordes de audiência, segundo a FIFA

Para Niclas Ericson, Mundial da África é um sucesso de audiência

Niclas Ericson confia em recorde na final da Copa da África

A final da Copa do Mundo entre Holanda e Espanha neste domingo vai bater recordes de audiência em todo o mundo, superando a marca de 760 milhões de telespectadores registrada pela partida pelo título do Mundial de 2006, segundo a Fifa.

- Não queremos especular, mas esperamos que a audiência da final desta noite seja a maior da história, acima dos 760 milhões de quatro anos atrás - afirmou Niclas Ericson, diretor da divisão de televisão da Fifa.

Na Espanha e na Holanda, diz Ericson, "todos os recordes (de audiência) serão batidos. Na Holanda, a audiência supera 90% de share (porcentagem dentre os televisores ligados no horário)".

- Até dezembro, quando os dados correspondentes a 100 países serão auditados e os cálculos dos restantes, somados, não haverá números definitivos, mas todos os radiodifusores estão oferecendo dados muito bons - conta o diretor.

Ericson ressaltou o recorde absoluto de telespectadores registrado na Alemanha durante a semifinal contra a Espanha, com 32 milhões de espectadores e uma audiência superior a 90%.

- Apesar de o mercado televisivo ter se fragmentado e haver muitos canais, parece que houve coincidência na hora de ver o Mundial. Nos Estados Unidos, a audiência aumentou 50%. Em geral, os números são muito mais altos no mundo todo, mas não dispomos de dados auditados - explicou.

Ericson ressaltou que os recordes também estão caindo "em transmissões pela internet e em telefones celulares"

http://www.lancenet.com.br/noticias/10-07-11/788313.stm

Professores relatam casos de violência de alunos em escolas do Rio - Aluizio Freire

Denúncias fazem parte de dossiê produzido por sindicato.
Educadores, doentes, são afastados e vivem a base de remédios.

Aluizio Freire

A professora E., de licença médica, foi ameaçada de morte por aluno

O grupo sacode as grades de ferro, lança bombas (tipo cabeça-de-negro) nos corredores, que explodem e estremecem as paredes do prédio. Grita, simulando uivos de animais, xinga e faz ameaças a quem ousa entrar na sua frente. Parece rebelião em um presídio, mas são atos de alunos rebeldes, relatados por professores de ensino médio e fundamental em um detalhado dossiê sobre violência nas escolas do Rio.

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O assunto voltou a ganhar destaque com a denúncia de uma professora, no dia 10 de junho, que acusou um aluno de 13 anos de quebrar seu dedo por tê-lo impedido de ouvir música durante a aula. Ela registrou queixa na delegacia por lesão corporal.

"A gente não pode mais fechar os olhos para isso. Existem muitos professores traumatizados, doentes, abandonando a profissão depois de receberem ameaças de morte." Mas profissionais da área já preparavam um amplo seminário sobre a violência nas escolas. Entre os temas do evento, que vai reunir educadores de vários estados no dia 25 de agosto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), será discutido a Síndrome de Burnout, doença que tem afastado muitos profissionais do mercado de trabalho por estresse excessivo.

De acordo com estudos psiquiátricos, a Síndrome de Burnout caracteriza tensão emocional crônica provocada pelo trabalho estressante. Como o nome diz pouca coisa, só o quadro clínico do paciente pode revelar a gravidade e a evolução da doença.

"A gente não pode mais fechar os olhos para isso. Existem muitos professores traumatizados, doentes, abandonando a profissão depois de receberem ameaças de morte. Isso é muito grave. Não culpamos apenas os alunos, discriminados e vítimas de outras questões sociais. Mas a instituição, as secretarias de educação precisam oferecer um suporte psicológico para os alunos e uma estrutura de apoio para que os educadores não fiquem à mercê desse tipo de violência, que está sendo banalizado”, afirma a coordenadora do estudo, Edna Félix, que representa o Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ).

De acordo com o Sepe, as escolas da Região Metropolitana do Rio concentram os casos mais graves de violência. Segundo levantamento realizado pela entidade, somente na capital existem mais de 200 unidades de ensino situadas em áreas consideradas de risco, o que indicaria o alto índice dos casos de agressividade dentro das salas de aula.

Uma das vítimas dessa violência é a professora de História Nádia de Souza, 54 anos, 23 de magistério. Ela está de licença médica desde o dia 30 de junho de 2009, acometida de transtornos emocionais, de acordo com laudo entregue por sua médica na terça-feira (5), após consulta no Serviço de Psiquiatria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, confirmando a necessidade de afastamento profissional da paciente.


Nádia, com síndrome do pânico, não consegue passar na porta de uma escola

Professora de História e Sociologia, pós-graduada em História da África, artista plástica e escritora, com dois livros publicados, Nádia lecionava na Escola Municipal Deodoro, na Zona Sul do Rio, até ser ameaçada por um aluno, no ano passado.

“Vou te quebrar”, disse um aluno ao ser informado que estava em recuperação. Sem conseguir mais ministrar suas aulas, entrou em licença médica.

Os primeiros sintomas de pânico surgiram durante uma viagem de metrô. À medida que o vagão ficava lotando aumentava seu desespero. Quando saiu estava em prantos, sufocada, com taquicardia. Precisou ser socorrida.

A paixão pelas crianças, o prazer de ensinar, se transformaram em aversão. “Dói muito a gente não poder fazer uma coisa para a qual se dedicou a vida inteira. É frustrante, é o fracasso”, revela Nádia.


Professora faz terapia há três anos

A professora não consegue nem mesmo passar na porta de uma escola. Sente calafrios. A estranha sensação de vazio, perseguição, surge em momentos inesperados. Durante uma conversa com amigos e familiares, na sala de casa, de repente foi acometida de um pânico inexplicável. Correu para o quarto e se escondeu embaixo da cama, gritando de medo.

“É um medo que não se sabe de quê. Sentimos um grande desamparo, como se o mundo e todos estivessem contra nós, prontos para nos agredir. É um sofrimento tão grande que sou obrigada a tomar antidepressivos e ansiolíticos diariamente. É como se tomasse remédio para dormir e para acordar", conta.

Outra professora que sofre da mesma doença é E.B., 53 anos, professora de Português do município há 13, formada em Letras e com pós-graduação em Literatura Brasileira pela Uerj. Ela faz terapia há três anos, passa por acompanhamento psiquiátrico e gasta cerca de R$ 200 por mês em remédios.

"Ele voou no meu pescoço e disse que eu ia acabar com a boca cheia de formiga."E. já lecionou em escolas da Zona Oeste, próximas de favelas dominadas por traficantes, e também em bairros do subúrbio do Rio, onde enfrentou situações de violência, inclusive ameaças de morte.

"Em uma escola em Santa Cruz, certa vez, dois grupos de adolescentes, que representavam facções criminosas rivais, entraram em confronto e quase destruíram a escola inteira. Quebraram carteiras, arrombaram portas, jogaram bombas tipo morteiros pelos corredores que causaram uma explosão assustadora. Um horror. Aquele prédio, frio, com aquelas pilastras de concreto, os portões de ferro, parecia que estávamos no meio de uma rebelião em um presídio", compara.

Filho, também professor, já enfrenta problemas
De família de professores, apesar da experiência traumática E. não conseguiu impedir o filho mais velho, de 33 anos, de seguir a mesma carreira. Ele, que está terminando o doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), também já sente as dificuldades de trabalhar em escolas que viraram palco de delinquentes.

"Quando sai de casa, ele me diz: 'Mãe, lá vou eu de novo para mais um dia no inferno’." Há cerca de um mês, seu filho presenciou uma briga entre alunos. Um deles jogou um explosivo sobre o outro, atingindo o pé do aluno que foi levado sangrando para o hospital.

E., durante um período que deu aulas em um colégio de São Gonçalo, na Região Metropolitana, sofreu mais um trauma. Foi ameaçada de morte ao comunicar a um aluno que havia sido reprovado.

"Ele voou no meu pescoço e disse que eu ia acabar com a boca cheia de formiga. Naquele dia, ao chegar em casa entrei numa crise histérica. Aos gritos, comecei a quebrar tudo que encontrava pela frente. Destruí minha cozinha. Meus filhos levaram quase três horas para me acalmar. Quem dedicou a vida inteira para oferecer o melhor para seu semelhante, que é a educação, não merece isso", lamenta, sem esconder as lágrimas.

Cópias dos dossiês produzidos pelo Sepe foram encaminhadas, além das secretarias de educação estadual e municipal, para a Comissão de Direitos Humanos e de Educação e Cultura da Câmara dos Vereadores e para o Ministério Público estadual


Resposta da Secretaria de Educação
Em resposta ao G1, a assessoria da Secretaria Municipal de Educação enviou a seguinte nota:

"A Secretaria Municipal de Educação esclarece que em abril deste ano, foi instituído o Regimento Escolar Básico do Ensino Fundamental. O regimento, entre outras medidas de caráter pedagógico e disciplinar, estabelece normas de condutas para os alunos nas escolas da rede municipal.

A Secretaria Municipal de Educação informa que o regimento instrumentaliza os diretores e professores e, ainda, valoriza o trabalho deles. Além de nortear o comportamento dos alunos, o regimento escolar resgata a autoridade do professor e faz com que os alunos passem a respeitá-lo mais.

Esse documento é um instrumento de trabalho de diretores e professores, para que possam ensinar em um ambiente tranquilo. Todas as medidas adotadas têm como objetivo estabelecer uma cultura de paz e garantir às nossas crianças o direito de aprender e sonhar com um futuro.

O Regimento Escolar Básico do Ensino Fundamental determina aos estudantes que não será permitido qualquer comportamento de agressão física, verbal ou eletrônica a aluno, professor, funcionário da unidade ou demais representantes da comunidade escolar. Também não será permitido o uso de adereços que expressem insinuações sexuais nas dependências da escola, bem como o uso do celular e de quaisquer aparelhos eletrônicos portáteis nas salas de aula."

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/07/professores-relatam-casos-de-violencia-de-alunos-em-escolas-do-rio.html

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A lógica da vingança no Brasil contemporâneo - Luís Carlos Lopes

Mesmo na festa do futebol, percebe-se a dificuldade de se perdoar e compreender os erros dos outros. A seleção verde-amarela foi derrotada na última Copa do Mundo e muitos torcedores derramaram o seu ódio contra alguns jogadores e, especialmente, contra o técnico.

A idéia da retaliação, do ‘olho por olho, dente por dente’, teria nascido na Babilônia, na região onde atualmente fica o Iraque há quase quatro mil anos atrás. Generalizou-se nas civilizações da Antiguidade Clássica, orientais e ocidentais, sendo criticada e considerada bárbara a partir do advento do cristianismo. Vingar com o máximo de violência possível, impondo a verdade de uns sobre a dos outros se tornou uma crença universal e de farto uso na história da humanidade. Infelizmente, tais práticas estão ainda muito vivas e com peculiaridades contextuais.

O Velho Testamento e o Corão consideraram este princípio como natural. Sua aplicação no reino dos homens foi interpretada como algo correto e necessário. Mesmo nestes antigos códigos religiosos, encontram-se ambigüidades e contradições no que se refere ao uso da pena de Talião. Nela, a justiça foi entendida como punição extrema iluminada pela vontade divina.

A lógica da vingança poderia também ser chamada de lógica de punição, sem a existência do direito de defesa assegurado. A descrição do julgamento de Cristo, contida nos Evangelhos, informa sobre um tipo de justiça, onde o juiz lava as mãos e a condenação já está decidida antes da formalidade processual. Não há defesa possível e o próprio julgamento já é o início da punição que levará o condenado à morte dolorosa por ter idéias desviantes do poder da época.

Não há certeza histórico-material da existência deste tão famoso personagem injustiçado. Entretanto, os Evangelhos, se lidos por quem não é religioso e dogmático, consistem em importante fonte para a compreensão de velhos costumes da humanidade. Segundo esta fonte, como repetem muitas outras de origem pagã, assim funcionava o Império Romano. Não era possível discordar ou fugir da punição. A execução sumária tinha livre trânsito, sendo usada contra opositores políticos, escravos rebelados, estrangeiros descontentes etc. Foi também utilizada contra os cristãos, nos três primeiros séculos de existência deste culto em Roma.

A condenação da vingança feita nos Evangelhos foi esquecida pela Igreja medieval em luta contra os seus dissidentes e os árabes. Na época das grandes navegações e da formação dos impérios coloniais europeus, a mesma lógica foi o mote da exterminação e sujeição dos indígenas das Américas e da justificação da escravidão dos africanos. Houve contestações no seio da Igreja que se dividia entre o pragmatismo colonial e a doutrina cristã. Predominou a visão que em nome de Cristo e da religião tudo era válido e permitido. A lógica da vingança conseguiu dar um jeito de burlar os Evangelhos e ter livre curso.

A mesma fé servia para justificar todos os ângulos do processo histórico, inclusive o da disputa entre as potências coloniais. Os livros sagrados eram iguais ou similares, entretanto, suas leituras interpretativas específicas davam o verdadeiro tom do uso das doutrinas na vida prática. Os protestantes, com uma interpretação mais próxima do Velho Testamento estavam mais livres para praticar a vingança em nome de deus. Até hoje, é possível notar que estes assumem mais facilmente a vingança do que os tributários da interpretação católica do mesmo cristianismo. Comumente, estes últimos tendem a fazer algo parecido, com disfarces na linguagem e estilos próprios.

No Brasil, por exemplo, não se tem a pena de morte oficial há mais de cem anos. Entretanto, de há muito, a execução extrajudicial mata mais por aqui do que em qualquer país onde se peça a morte oficial de quem cometa crimes violentos. A história do Brasil colonial e imperial é cheia de casos de violência vingativa brutal, como no conhecido exemplo de Tiradentes e da Guerra do Paraguai. Na jovem república, não faltaram exemplos de vinganças de todo o tipo cometidas pelo Estado contra insurgentes, tais como as praticadas em Canudos, Contestado etc.

Os fora-da-lei sempre foram tratados no Brasil com brutalidade máxima. A tortura é uma velha instituição originária da escravidão e ainda hoje usada contra os presos comuns. Apesar de ser usada como uma prática de Estado, ela sempre encontrou forte apoio social. Desejosos de uma segurança negada pelo Estado, vários estratos sociais, inclusive parcelas expressivas dos pobres, acreditaram e acreditam que a violência extrema é um bom modo de conter o crime e de trazer segurança à população e aos interesses patrimoniais. O baixo nível de compreensão política, amplamente cultivada pelas elites e pelas mídias, dissocia o crime de problemas sociais, tais como o desemprego e a ignorância.

Na ditadura Vargas e na época da ditadura militar, o mesmo expediente foi um dos pilares da opressão destas fases da vida política nacional. A lógica da vingança, expressa com todas as cores sanguinolentas da tortura, da execução e da prisão, serviu como um meio convincente de estabilizar regimes impostos à sociedade de modo arbitrário, isto é, frutos de golpes de Estado e da manipulação da opinião das maiorias. Os poderosos vingaram-se dos que ousaram discordar de seus métodos e defenderem alternativas ao status quo. A diferença de um passado remoto, é que isto passou a ser feito sem maior alarde. Sabia-se que os crimes eram praticados, mas eles não eram assumidos publicamente. Difundia-se o medo de modo parcimonioso e direcionado aos alvos que se queria atingir.

A lógica da vingança continua viva no tecido social brasileiro. Não se trata de algo que se relaciona exclusivamente ao ato de governar. Está presente em mil e um fatos da vida cotidiana do país. É possível vê-la nas relações interpessoais, infelizmente, povoadas de atos desta natureza. Ódios irracionais contra o que não se compreende bem, e, por vezes, se imagina como algo único e fundamental para vida de cada um. A lógica da vingança implica inventar inimigos e esquecer dos verdadeiros algozes.

Mesmo na festa do futebol, percebe-se a dificuldade de se perdoar e compreender os erros dos outros. A seleção verde-amarela foi derrotada na última Copa do Mundo e muitos torcedores derramaram o seu ódio contra alguns jogadores e, especialmente, contra o técnico. Torceram contra seleções latino-americanas, esquecendo o que o Brasil representa no mundo contemporâneo. Não lembraram ou não sabem que o futebol atual é um negócio com múltiplas faces e interesses envolvidos, continuando a ser um jogo, com possíveis resultados aleatórios. Este excesso de paixão demonstra a persistência de uma visão antiga, punitiva e raivosa.

A lógica da vingança esconde um fato capital. Toda a vingança extrema é injusta e incapaz de reparar qualquer problema causado por alguém. A punição deve ser dosada e calculada na tentativa de se evitar que os mesmos problemas se repitam. Se não se pode fazer a roda da história andar no sentido contrário, deveria, então, ser possível evitar que o mesmo problema ocorresse no passo seguinte. Não é necessário dizer ao leitor que é difícil se ver iniciativas nesta direção.


Luís Carlos Lopes é professor e escritor.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4697&boletim_id=725&componente_id=12177

A volta da desigualdade de informação - Neto (direto de Joanesburgo)

O evento organizado pela Fifa para a transição de país-sede da Copa do Mundo foi marcado por situações curiosas. Tudo teve a participação da Rede Globo. Desde a parte técnica até a apresentação, que coube a um casal da atores da emissora carioca. De qualquer forma a Globo está na dela. O grande absurdo é a CBF, como organizadora e "dona" do time mais importante do mundo, privilegiar a Globo nas informações e entrevistas.

Nesse mesmo evento o assessor Rodrigo Paiva proibiu os jornalistas de fazerem perguntas relacionadas a Seleção ao presidente da CBF. Mas bem que uns dias atrás ele esteve com exclusividade no canal Sportv (da Globo), esclarecendo tudo o que foi perguntado. Sacanagem, né? Se eles podem porque as centenas de emissoras de rádio, TV e jornais, que gastaram uma baita grana na cobertura da Copa, não podem? Dá pra entender?

Ficou claro que o Ricardo Teixeira se arrependeu de ter colocado o Dunga, que poderia ter todos os defeitos de ordem técnica, mas não dava privilégios a ninguém. Pelo visto a desigualdade de imprensa, que sempre existiu, mas que com o Dunga tinha parado, voltou com tudo. Uma pena!

http://g.br.esportes.yahoo.com/futebol/copa/blog/doneto/post/A-volta-da-desigualdade-de-informa-o?urn=fbintl,254974

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Profissionais da rede estadual fazem protesto na Alerj para cobrar porque categoria ficou de fora do reajuste salarial

Os profissionais de educação das escolas estaduais realizaram um protesto hoje na Alerj para cobrar a inclusão da categoria nas propostas de reajuste para diversos setores do funcionalismo estadual, aprovadas na semana passada, mas que deixaram de fora os professores e funcionários administrativos. Apesar da pressão da educação, o governo do estado não enviou nenhum projeto novo. Como o prazo constitucional de reajustes salariais dos servidores em ano eleitoral terminou hoje, dia 30, não há mais possibilidade de qualquer novo projeto de lei ir à votação.

Assim, o governador Sergio Cabral deixou mais de 120 mil servidores da educação sem reajuste. Em 2006, Cabral mandou cartas para a casa de todos os profissionais da educação, prometendo a reposição das perdas salariais contraídas nos últimos dez anos (cerca de 68% de perdas). No entanto, Cabral concedeu reajustes de apenas 4% em 2007 e 8% em 2008.

Ele também se comprometeu com a incorporação da gratificação Nova Escola ao piso salarial do profissional da educação. Mas o governador parcelou em longos sete anos essa incorporação, que só será finalizada em 2015 ou daqui a dois novos governos!

Outra promessa eleitoral: Cabral disse que iria descongelar o plano de carreira dos funcionários administrativos das escolas, mas o plano continua congelado.

O professor de uma escola estadual recebe como piso salarial apenas R$ 584. Já o funcionário administrativo recebe um piso de R$ 415,00 – menor que o salário mínimo nacional!

Por causa dos baixos salários, muitos profissionais pedem demissão ou aceleram sua aposentadoria - um estudo do Sepe no Diário Oficial do estado confirmou que ano passado, cerca de 20 professores e 4 funcionários saíram das escolas por dia!

O Sepe está negociando com a Comissão de Educação da Alerj uma denúncia conjunta no Ministério Público contra o descumprimento dos planos de carreira da educação (incluindo o de funcionários, que está congelado); o Sepe e a comissão também discutem uma ação civil pública contra o governo, que seria assinada por representantes de diversos partidos.