domingo, 19 de junho de 2011

Leiam essa interessante matéria. Pena que o Saint Pauli foi rebaixado...

[Martin Smith]

Se você odeia futebol com toda sua força, então leia. Se você ama futebol, então você tem que ler também.

Como posso fazer isso, ouço você perguntar. A resposta a este enigma reside em Hamburgo, Alemanha. Lá, localizado entre a Reeperbahn (a "rua da luz vermelha" de Hamburgo), docas e bairros de trabalhadores e imigrantes pobres está o estádio Millerntor, a casa do time de futebol Saint Pauli.

O Saint Pauli é, de longe, o clube mais de esquerda da Europa. O clube lançou agora uma nova camiseta com os dizeres "love Saint Pauli, hate racism" ("ame o Saint Pauli, odeie o racismo") que é inspirada pela mensagem do Love Music Hate Racism, festival político-musical antifascista na Grã-Bretanha. Fui convidado por um grupo de torcedores para falar sobre a nossa luta contra o movimento racista English Defence League, divulgar a nova camiseta deles e assistir a um jogo no mês passado.

Uma coisa te impressiona enquanto você faz o caminho até o campo. Em todo bar, toda loja e aparentemente todo prédio se vê a bandeira pirata, conhecida como Jolly Roger (Totenkopf, em alemão). O meu anfitrião neste dia é Bruno, um ex-squatter (squatters são ativistas que ocupam e vivem em lugares abandonados) e socialista libertário. Ele explica que a bandeira simboliza a luta dos clubes pobres contra os clubes ricos.

A segunda coisa que chama sua atenção é que os torcedores do Saint Pauli não são fãs comuns. Eles são uma mistura de punks, roqueiros tatuados, anarquistas, trabalhadores industriais e, além disso, tem mais torcedoras do que qualquer outro clube na Europa.

Esses torcedores são atraídos por um clube que veste seu coração político na manga e estimula uma cultura alternativa que floresce nas arquibancadas. Eles foram o primeiro clube europeu a promover uma cultura antiracista e antifascista nas arquibancadas. O time jogou um torneio em Cuba para mostrar solidariedade ao país nos anos 90 e Volker Ippig, goleiro do Saint Pauli na época, para ajudar a Revolução Sandinista na Nicarágua.

As partidas são como um festival. O time entra no campo ao som de "Hells Bells", música do AC/DC e quando marca um gol ouve-se no estádio "Song 2", música do Blur. Depois do jogo, caixas de som são colocadas fora do estádio e são feitas pequenas festas nas ruas.

Bruno me explicou que a transformação em um clube radical começou nos anos 80. Naquela época, o Saint Pauli estava jogando nas divisões inferiores.

Um grupo de squatters começou a comparecer nos jogos. Por brincadeira alguns começaram a trazer suas bandeiras piratas. Lentamente, o grupo cresceu e outros torcedores, cansados da mercantilização crescente e de elementos fascistas associados a outros clubes, começaram a acompanhar o Saint Pauli. Hoje você vê bandeiras de Che Guevara e faixas anarcossindicalistas erguidas por todo o estádio.

Até recentemente o presidente do clube era Corny Littman, um homem assumidamente gay. Alguns anos atrás, torcedores de um outro time entoaram cantos homofóbicos contra Littman. Quando o time fez o jogo de volta no estádio do Saint Pauli, as arquibancadas estavam totalmente cobertas por "bandeiras arcoíris", a resposta perfeita.

No ano passado, o Saint Pauli subiu para a Bundesliga, a primeira divisão do futebol alemão. A pressão para se manter no campeonato fez com que o clube sucumbisse a pressões comerciais. Assentos especiais foram criados e, inacreditavelmente, um dos espaços do estádio foi patrocinado por uma casa de strip de Hamburgo. Torcedores revoltados resisitram. A Socialromantiker, uma torcida do Saint Pauli, começou a cobrir as propagandas da casa de strip durante os jogos. A Jolly Roger foi erguida por fãs nas arquibancadas nos protestos contra o patrocínio de casa de strip.

Hoje não há mais propagandas e o clube encerrou o contrato de patrocínio com os donos da casa de strip. O poder dos torcedores venceu e as bandeiras piratas são vistas por todo o estádio.

Depois do jogo, sou levado por Bruno e alguns outros torcedores para o bar Jolly Roger. Está lotado de punks e de todos os adesivos antiracistas e antifascistas possíveis. Sou apresentado a quatro pessoas sentadas numa mesa fora do bar. Eles parecem estar ligeiramente fora de lugar. Não são punks ou roqueiros, nem estão com o uniforme do Saint Pauli dos pés à cabeça. Ainda assim, parecem ter um momento ótimo. Eles me dizem que são refugiados e procuram asilo, foram convidados por Bruno e seus amigos.

Bruno acrescenta: "Nos jogos em casa, nosso grupo convida um pequeno grupo de refugiados para vir ao jogo. Depois comemos e bebemos até altas horas da noite, nós pagamos por tudo. Nós éramos forasteiros. Agora encontramos uma casa. Nós queremos que essas pessoas tenham no Saint Pauli uma casa."

Para mim, isso resume a essência do Saint Pauli.

Portanto, você pode detestar futebol, mas como não amar o Saint Pauli? E se amar futebol como eu, pode imaginar algum lugar melhor para passar uma tarde de sábado?

http://www.revolutas.net/index.php?INTEGRA=1580

http://www.socialistreview.org.uk/article.php?articlenumber=11701

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