sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pouco transparente, Copa de 2014 já estoura prazos e orçamento - Maurício Thuswohl

Fórum Social Urbano faz avaliação crítica dos preparativos para a Copa do Mundo de 2014. Membro do comitê formado pela sociedade civil sul-africana para acompanhar a organização da próxima Copa do Mundo, Alan Mabin, professor da Universidade de Witwatersrand, chamou a atenção para a evolução do custo inicialmente previsto para o evento.

Data: 25/03/2010

RIO DE JANEIRO – A realização de megaeventos esportivos e os impactos sociais e econômicos por eles causados formaram o principal tema de debate do Fórum Social Urbano nesta quarta-feira (24). Coordenado por organizações não-governamentais e universidades brasileiras, o FSU acontece até sexta-feira (26) no Rio de Janeiro, paralelamente ao Fórum Mundial Urbano.

No fórum oficial, é evidente a euforia dos participantes com eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. No FSU, a abordagem sobre estes temas foi bem mais crítica, com direito a nova exposição de denúncias sobre as irregularidades cometidas nos Jogos Pan-Americanos de 2007, realizado no Rio, e na organização da próxima Copa, a se realizar na África do Sul. Os debatedores também mostraram que a Copa a se realizar no Brasil já estoura prazos e custos inicialmente estabelecidos pela organização do evento.

Membro do comitê formado pela sociedade civil sul-africana para acompanhar a organização da próxima Copa do Mundo, Alan Mabin, professor da Universidade de Witwatersrand, chamou a atenção para a evolução do custo inicialmente previsto para o evento: “Quando a candidatura da África do Sul foi apresentada à Fifa, havia uma estimativa de gastos de R$ 3 milhões para a reforma de alguns estádios. Agora, já se fala em R$ 2 bilhões gastos somente para finalizar um único estádio na Cidade do Cabo. Será que nossos líderes cometeram um grande erro de cálculo ou será que mentiram para o povo?”, provocou.

Mabin alertou que a organização da Copa “traz oportunidades de bons negócios e também de corrupção” para os sul-africanos: “Para uns, obras como as do estádio da Cidade do Cabo, com imensa quantidade de recursos, significa uma boa oportunidade de negócio. Para outros, são uma oportunidade de corrupção, de clientelismo e de concentração de poder”, disse. Mabin também denunciou as condições dos trabalhadores sul-africanos contratados para as obras da Copa: “As jornadas de trabalho são muito longas e os salários muito baixos. Vale lembrar que a África do Sul tem uma taxa de desemprego de 40%”.

Para a próxima Copa, o inchaço dos custos já é uma realidade, e tudo indica que o cenário vai ser repetir no Brasil com a organização da Copa de 2014, segundo os dados levantados por Christopher Gaffney, da Universidade Federal Fluminense (UFF): “Logo de cara, já foi dito que nenhum estádio brasileiro era capaz de receber um jogo de Copa do Mundo. Então, se estabeleceu que devem ser construídos ou reformados doze estádios nas cidades-sede da Copa, o que significa grande investimento. Outra questão é que, apesar de a Copa ser um negócio privado, como dizem a Fifa e a CBF, até agora apenas um estádio, o de Salvador, está sendo construído em regime de PPP (Parceria Pública e Privada). O BNDES está fazendo empréstimos de R$ 400 milhões a cada cidade, o que mostra a participação decisiva do dinheiro público”.

Um grande aumento dos custos inicialmente previstos para a Copa de 2014, segundo Gaffney, já se desenha no horizonte: “Em apenas nove meses, houve aumento de R$ 100 milhões nos projetos do Maracanã e do Morumbi e de R$ 250 milhões no projeto da Fonte Nova. Nesse ritmo, imagina como será até 2014! Acontecendo no escuro, esse aumento é uma ameaça ao cidadão brasileiro”, disse. Outro problema que já acontece, segundo o pesquisador da UFF, é a perda dos prazos inicialmente previstos pela Fifa: “O prazo de entrega dos projetos foi estourado, assim como o da apresentação dos investidores e o da formalização das PPPs. O início das obras nos estádios estava previsto para 1º de março, e esse prazo também já foi estourado”.

Gaffney ressaltou ainda a falta de transparência nos comitês locais nomeados pela Fifa: “É a primeira vez numa Copa do Mundo que o presidente da federação nacional vai ser também o presidente do comitê organizador local. Em nenhuma das cidades-sede há informação pública sobre o funcionamento dos comitês locais. A transparência de cima para baixo não existe”, disse, lembrando que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, é genro de João Havelange e que Joana Havelange (mulher de um e filha do outro) é a secretária-executiva do comitê organizador da Copa de 2014: “Essas ligações familiares transformam a gestão da Copa numa coisa obscura”.

Um retrato dos impactos sociais que a Copa de 2014 pode trazer já acontece em Fortaleza, onde os doze mil habitantes do Lagamar lutam para que o evento esportivo não sirva como justificativa do poder público para acabar com a comunidade, considerada uma das mais violentas da capital cearense: “Estão previstas obras na região do Lagamar, mas o governo nunca mostrou claramente como serão as obras”, afirma Maria Auxiliadora, dirigente da associação de moradores. Com medo que a comunidade desapareça, representantes do Lagamar chegaram a conseguir uma audiência com a prefeita Luiziane Lins: “Lutamos por nossa permanência e porque aquela é uma área de especulação imobiliária”, diz Auxiliadora.

fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16485

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