Custo inicial dos Jogos Pan-Americanos de 2007 for de R$ 390 milhões. Dois anos após os jogos, quando finalmente foram tornados públicos os dados relativos a sua organização, descobriu-se um custo final de R$ 3,5 bilhões. Com a intensa movimentação já iniciada em relação às Olimpíadas de 2016, representantes da sociedade civil, reunidos no Fórum Social Urbano, temem que se repita a história do Pan.
Data: 26/03/2010
RIO DE JANEIRO – Quando a candidatura do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007 foi enviada ao Comitê Olímpico Internacional (COI), em 2001, o custo total inicialmente previsto para o evento era de R$ 390 milhões. Dois anos após os jogos, quando finalmente foram tornados públicos os dados relativos a sua organização, descobriu-se um custo final de R$ 3,5 bilhões, confirmando as denúncias feitas por organizações não-governamentais de que o megaevento teria custado dez vezes mais do que aquilo que fora “vendido” para a sociedade. Com a intensa movimentação já iniciada em relação às Olimpíadas de 2016, representantes da sociedade civil temem que se repita a história do Pan.
Presente ao Fórum Social Urbano na quarta-feira (24), Nelma Gusmão de Oliveira, integrante do Comitê Social do Pan, apontou semelhanças entre o que ocorreu até 2007 e o que está ocorrendo agora: “Ao tomar conhecimento do projeto para 2016, a sensação é de já ter visto esse filme. Apesar do discurso ‘aprendemos com os erros do Pan e não os repetiremos’ a coisa está encaminhada para se repetir. Basta consultar o dossiê do Pan e o projeto para 2016 para perceber”, disse.
As semelhanças, segundo Nelma, começam na concepção do projeto físico-espacial dos eventos: “Não há diferença de conceito de evento ou de compreensão da cidade nos dois projetos. O das Olimpíadas prevê quatro clusteres concentrados exatamente nos mesmos pontos que o Pan. Essa é uma visão pontual e fragmentada da cidade, sem pensar em interagir com a população. Em nenhum momento esse projeto prevê a integração da cidade como um todo”.
A principal diferença entre os dois projetos, segundo Nelma, é que, “no caso de 2016, estão previstos gastos infinitamente maiores do que no Pan”. Ela lembrou que o custo inicial previsto para os jogos de 2016 é de R$ 28,8 bilhões e citou como exemplos de novidades em relação ao Pan o projeto de revitalização da zona portuária e a implantação do BRT (Bus Rapid Transport, na sigla em inglês): “Outros projetos já tiveram acréscimo de orçamento. É o caso, por exemplo, da construção da Linha 4 do Metrô para ligar Ipanema à Barra da Tijuca”.
Outra semelhança entre o Pan 2007 e as Olimpíadas 2016 aparece no caso das empresas beneficiadas nos dois projetos: “Os estudos de viabilidade econômica e de consultoria em 2007 foram encomendados à Fundação Getúlio Vargas, à Price WaterhouseCoopers e ao EKS (Event Knowledge Service, na sigla em inglês). Os três aparecem novamente em 2016. O mesmo acontece com a construção civil que, assim como em 2007, vai beneficiar a construtora Carvalho Hosken”, disse Nelma, lembrando que a construção da Vila Olímpica do Pan é alvo de contestação por “problemas estruturais e mau uso de recursos públicos”.
Elefante branco
Representante da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro no FSU, Alberto de Oliveira foi outro a apontar semelhanças entre o Pan de 2007 e as Olimpíadas de 2016: “Vivemos em relação aos jogos de 2016 o mesmo quadro de falta de informação e de falta de transparência dos gastos públicos. O Pan foi um elefante branco”, afirma, acrescentando que a promessa de progresso para a cidade e de vinda de recursos não se concretizou em 2007: “Não houve mudança nenhuma, por exemplo, em relação a taxa de desemprego do Rio durante as obras do Pan”, disse.
O principal problema do Pan, segundo Oliveira, foi a espantosa evolução dos gastos previstos para o evento: “O governo federal pagou sozinho quase R$ 2 bilhões”, disse. O critério adotado para os gastos também foi contestado: “Contando apenas os gastos do Governo do Estado, foi gasto em infra-estrutura urbana apenas 3,4% do total, enquanto 10% foi gasto, por exemplo, em consultorias e planejamento. O item com o qual mais se gastou foi segurança. Ou seja, um terço do gasto total foi para esconder a insegurança do Rio e viabilizar o Pan”, disse, citando como exemplos a construção do Centro de Segurança (R$ 400 milhões), o pagamento de salários para a Força Nacional de Segurança (R$ 56 milhões) e as operações de inteligência (R$ 37 milhões).
O propalado “legado do Pan”, na opinião de Oliveira, também não se concretizou da forma prometida pelas autoridades e pela organização do evento. Caso emblemático é o da construção do Estádio João Havelange, mais conhecido como Engenhão, que consumiu um terço dos gastos realizados pela Prefeitura do Rio. Três anos após o Pan, o Engenhão - atualmente arrendado pelo Botafogo - convive com a descoberta de falhas estruturais. Um boletim encaminhado recentemente pelo clube à Prefeitura aponta 30 falhas no estádio, que custou R$ 390 milhões (curiosamente, o mesmo custo estimado para todo o Pan em 2001) aos cofres municipais.
Outros elefantes brancos deixados como “legado” pelo Pan de 2007 são a Arena Multiuso, o Parque Aquático Maria Lenk e o Complexo Esportivo de Deodoro: “Todos esses espaços estão ociosos ou sub-utilizados. Foi feito um esforço enorme de economia, que acabou afetando alguns serviços essenciais, para poder financiar um projeto econômico que, mesmo sob o ponto de vista liberal, sem nem entrar no mérito da distribuição de renda, economicamente dá prejuízo. Fazer grandes eventos esportivos não dá lucro”, afirmou Oliveira.
fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16486
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