Jornal Extra, domingo 10 de agosto de 2008, p.17
Leonardo Valente
Estadistas, ativistas e até terroristas já exploraram oportunidades nas Olimpíadas
Quando a chama foi acesa no estádio olímpico Ninho do Pássaro, na sexta-feira – encerrando a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim – milhões de espectadores em todo o mundo olhavam admirados para uma China da qual já se ouvia falar, mas que pouca gente até então teve oportunidade de ver: moderna, organizada e muito rica. Para o comitê organizador, ficou a alegria pelo sucesso dessa primeira etapa. Para a História, foi o início espetacular de mais uma Olimpíada que transcende o mundo do esporte para se transformar em um megaevento político.
- Em 1936, Adolf Hitler fez das Olimpíadas de Berlim um grande evento de propaganda nazista. E, a partir daquele ano, o que observamos é uma politização explícita dos Jogos – diz Willians Gonçalves, professor de relações internacionais da UFF e da UERJ.
Não apenas os países passaram a ter noção da importância política das Olimpíadas, mas também muitas organizações, inclusive terroristas, que viram no evento uma grande oportunidade para divulgar suas causas. Nos Jogos de 1968, na Cidades do México, atletas negros americanos ficaram conhecidos em todo mundo pela saudação black power (típica do grupo Panteras Negras), em protesto contra política racial nos Estados Unidos.
Já em 1972, durante as Olimpíadas de Munique, ocorreu um dos episódios mais dramáticos da História dos Jogos: o evento acabou marcado pela morte de 18 pessoas, entre atletas israelenses, terroristas e policiais. Palestinos da organização Setembro Negro invadiram os dormitórios da delegação israelense. Duas pessoas foram assassinadas imediatamente e nove foram feitas reféns. Os terroristas pediam a libertação de 200 árabes presos em Israel.
Em 1980, em Moscou, uma outra versão das Olimpíadas ficou marcada pela propaganda política. A União Soviética mostrou ao mundo sua organização e emocionou milhões de espectadores com seu mascote, o urso Misha. Mas os Jogos também acabaram sendo marcados pelo boicote dos Estados Unidos e de países da Europa Ocidental, em protesto contra a invasão soviética ao Afeganistão.
A grande repercussão da Olimpíada soviética teve como reposta a realização dos Jogos de 1984, em Los Angeles. Os americanos fizeram questão de mostrar alta tecnologia, numa clara provocação ao bloco socialista, que já se encontrava em relativo atraso tecnológico. Em retaliação ao boicote de 19880, a União Soviética e seus aliados não foram aos Jogos.
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